Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Dentro de mim vivem uma pomba e um urubu - e sou muito feliz com eles!

Vendo o todo pelo olhar do outro!

Sabe aquela postagem do urubu e da pomba?
Da vontade de ver o todo, de me sentir completa?
De compreender as diferentes camadas da minha palhaça numa unidade?
Pois então...
Em dezembro eu e a Odelta apresentamos nosso pequena cena para meus alunos e sempre depois de cada ensaio-aberto tinha uma conversa com a gurizada.
No meio dessa conversa um aluno me diz:
"Mas professora ainda dá pra ver tua antiga personagem"
O que isso significa?

Muitas coisas:
Primeiro, foi a oportunidade de refletir junto com os alunos sobre a composição da figura de um palhaço, diferente de composição de personagens. Na figura do palhaço nada se apaga para que outra coisa apareça, é sempre uma construção entrelaçada a outra. Uma nova camada, sem apagar as anteriores, mas dando outras nuances para as ações já existentes e construindo novas ações e energias.
Segundo, consegui ver que tudo estava lá - a pomba e o urubu! Tive, com certeza, nesse exercício, o sentimento de INTEIREZA que tanto me é caro, mas precisei de um olhar de fora que apontasse, para ter certeza de QUE TUDO ESTAVA LÁ!

Que 2014 abra caminhos para que possa ver e compreender cada vez mais as camadas que me compõe, ops, que compõe a minha palhaça!

:OP


Obs.: tudo estava lá, mesmo antes da vontade, mesmo antes de querer me ver, mesmo antes das escolhas! Querer ser palhaça é fundamentalmente querer se ver e depois revelar! Agora, olho para o passado e muita coisa se explica! Olha a foto, olha a pose... tava tudo lá!

"Agora vejo em parte, mas então veremos face-a-face, é só amor, é só o amor que conhece o que é verdade!"

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Entre a pomba e o urubu

Ontem mostrei o vídeo do meu trabalho com a Odelta para alguns alunos...
Alguns me confundiram com a Ode, jamais me imaginaram naquele outro estado! Jamias me imaginaram na figura do branco!
" Nunca pensei que fosse tu professora!"
" Muito diferente"
" Parece mais quieta!"

Ainda me surpreendo com a nova forma! Reconheço, mas ainda me surpreendo!
Sei que faz parte do conjunto da obra.
Sei que é mais uma face do meu palhaço.
Mas quero ver essas diferentes faces em unidade, em diálogo, ainda não vi na totalidade da ação, na cena, na energia.
Consigo ver, lembrar e sentir cada estado separado.
(Talvez a unidade já esteja presente, eu é que não não percebi!)

Quero ver o conjunto, a unidade em ação!
Talvez por isso ainda me surpreenda! Talvez porque ainda é tudo novo!
Perguntas e respostas, só o trabalho dirá!

Minha figura anterior (a do meu solo) carrega na cabeça uma pomba branca. A nova figura (do 123 e chá) tem consigo um urubu no ombro...
Expressivo não?
Quero ver a pomba e o urubu juntos!

Entrando na Floresta

Entrei na floresta, mergulhei fundo na escuridão, no desconhecido, procurando as flores mais raras.
Entrei, mergulhei e encontrei o que eu buscava!
Depois de muito olhar, reconheci...
As flores raras eram as mesmas que já estavam no meu jardim!

"As vezes é preciso ir à floresta para descobrir que as flores raras já estavam no seu jardim".
Essa frase foi dita pelo meu amigo palhaço Cícero Silva, o Titetê, quando contei sobre a minha grande experiência de ser uma palhaça branca! "Eu já sabia" completou ele! Obrigada querido!

Quando o trabalho com a Lily, me levou ao reconhecimento das minhas características do jogo do palhaço branco, parece que rapidamente eu revi toda minha caminhada e que as coisas então passaram a ter sentido e explicação! Tudo se encaixava!
Tão obvio, tão latente...
Mas nem sempre conseguimos ver o óbvio...as vezes precisamos ajuda!

Então além de uma agradecimento ao meu amigo Titetê que trouxe a imagem mais linda para esse momento, preciso agradecer a minha generosa amiga ODELTA, por me possibilitar o jogo, a contraposição, o sonho e o afeto. Parcerias não se escolhem, elas surgem como presentes! E a Ode é meu presente!
Tem também o mega obrigada a LILY, que cuidadosamente me deu a mão e me conduziu nessa caminhada. Graças a ti Lily dei meu passos nessa nova trajetória de maneira segura e feliz!
Reconhecer cada vez mais a minha palhaça e a mim é algo transformador - transmutador!



Fecho essa postagem com um conto do Eduardo Galiano, que diz mais ou menos assim:
Um pai levou o filho para conhecer o mar.
Diante daquela beleza e imensidão o filho diz
- Pai me ajuda a olhar!

Me sinto na frente do mar, rodeada de amigos, de mãos dadas, tentando olhar a imensidão! 





terça-feira, 3 de dezembro de 2013

INTEIREZA, IDENTIDADE...

Aceitação
Permissão
Revelação
Inteireza
Identidade
Plenitude
Luz
Sombra
Fragilidade
Força

O trabalho do palhaço nos coloca diante de tudo o que somos. Nos apresenta para 'nós mesmos", nos assusta ao mesmo tempo que nos acolhe.
Há tempos atrás provavelmente eu não aceitaria me ver como uma palhaça branca...Imagina!
Mas tenho registrado no corpo, nas sensações o sentimento de plenitude que foi poder me ver diante de todas as minhas facetas, até mesmo as mais obscuras e poder vivê-las na sua potência!
Então não foi uma questão de aceitação da figura do branco em mim, mas de acolhimento de quem sou!
Lembro da sensação de paz que me invadiu!
E tranquilamente abri os braços para meu novo papel!
O grande barato é que se na vida cotidiana, preciso acionar filtros ou transformar alguns comportamentos e energias que, com o trabalho do palhaço, posso vivê-los na sua plenitude e isso sim me dá condições de entender, transformação e elevar meus sentimentos.
O que eu sou, eu reconheço e  me permito viver e sentir fora ou dentro de cena!
Realmente é muito tênue a linha entre o eu e o palhaço.
Com certeza o palhaço é a potência maior de nós mesmos

domingo, 24 de novembro de 2013

REVIRAVOLTA

Estou em pleno processo de construção do nosso espetáculo de dupla - 1,2,3 E CHÁ!
Eu e a Odelta imersas totalmente no trabalho, aqui em Floripa com a Lily Curcio (palhaça super hiper mega power rangers), que está nos dirigindo.
Então eis que acontece uma reviravolta: NÃO SOU AUGUSTA SOU BRANCA!
Louco? Sim, loucura total!
Acabo de ler minha postagem anterior, em que afirmo que sou augusta, extremamente augusta...
E agora me descubro branca!
O que fazer com isso?
Ainda estou em estado de choque. Mas num estado de choque de muita felicidade. Só ainda não estou conseguindo entender tudo isso.
Bom primeiramente, até o momento nunca tinha vivido os aspectos do jogo do Branco no meu trabalho. Basicamente eu reconhecia a figura meiga, fofa, ingênua, um pouco atrapalhada, com alguns rompantes de fúria, de força e de pseudo-inteligência. De certa forma, era assim que eu gostava de ser vista! Linda, querida, engraçada, generosa. Esse era meu nome GENEROSA. Nunca carreguei esse nome com muito orgulho, mas achava que de fato revelava quem eu era.
Com essa imagem e esse trabalho passei por alguns mestres que de fato me fizeram explorar diferentes nuances do Augusto. Vivi situações que me deixavam claro que eu era boba, muito boba.

Mas enfim, começamos o trabalho com a Lily e bastou pouco para que uma energia punk, forte, diretiva, controladora surgisse. Surgiu de forma explosiva, a partir de um trabalho dinâmico com os chacras. Era muito claro para todas nós que eu era o BRANCO da relação.
E agora José? Será que eu quero isso? Até pouco tempo sempre preferi o palhaço augusto, que é paspalho e querido por todos. Minhas referências de grandes palhaços são augustos.
Mas impressionantemente eu não me incomodei com o fato de ter me tornado a branca da relação. Pior eu estou adorando encontrar esse novo lugar. Agora sou a INHA, lembro de por um momento rolar pelo chão e dizer "ai, eu não preciso mais ser generosa!". É claro que essa figura forte, mais entendiada, irritada não excluí as outras características da minha palhaça que ao longo dos anos fui descobrindo ou construindo. Todo o material novo se funde com o antigo, criando novas camadas, novas nuaces, novas possibilidades. Não deixei de ser quem eu era, mas me vi uma nova face que desconhecia, ou não me permitia revelar.

Mas que eu fiquei impressionada, fiquei!
Nunca eu tinha me visto nesse estado?
Como ninguém viu?
Será que essa "brancura" é resultado de um momento que estou vivendo? Do conjunto da obra? Do momento e da relação com a Odelta que tem um jogo bem mais paspalho que o meu? Pode ser!

No momento quero ver onde vai dar! Tenho encontrado coisas incríveis, pelo simples fato de aceitar e buscar explorar essas características. Como elas se sustentarão ou reverberarão para os outros trabalhos, ainda não sei. Só o tempo e o trabalho dirá.

Mas algumas coisas curiosas da minha vida privada precisam ser reveladas, porque acredito que tenham ligação direta com esse novo olhar, esse redescobrir da minha palhaça.
O fato é que esse ano (na terapia) passei a olhar para minha "sombra". Olhar em mim, aceitar que eu não era só "legalzinha, meiguinha, bacaninha"! Esse ano fiz o exercício de olhar para o melhor e para o pior de mim, para tudo aquilo que aprendi que não era bacana revelar (a fúria, a inveja, o tédio, o controle sobre o outro, etc). Negar esse meu lado escuro estava me acarretando problemas. Então assim como olho para meu lado bom, meigo, autruísta, alegre, olho para meu lado perverso, mau, cansado, furioso.
Esse movimento me colocou mais inteira e tranquila diante do mundo.
Mas terapia é terapia e palhaço é palhaço! Ponto, disse! Entretanto, todavia e contudo a linha é tênue!
A grande questão é que o palhaço é o revelador da alma que o carrega! É a partir do humano de cada um que ele se constitui, então eu precisa ir ao encontro de mim, na minha totalidade.
Penso que aceitar um Branco é como aceitar viver a própria sombra.
É um exercício de generosidade imenso, assim como um augusto coloca a cara a tapa e apanha para revelar toda nossa fragilidade, me parece que o branco nos mostra sempre o quanto cruéis podemos ser.

Preciso ler mais sobre isso, preciso entender o que acontece!
Então: sou branca ou augusta?
Eu diria que agora me sinto INTEIRA

Alice Viveiros de Castro diz que se a gente se limitar a somente dois pólos a gente perde a gama de possibilidades, a riqueza das diferenças que existem entre esses dois aspectos aparentemente tão estanques! Gosto disso!

Acabo de contar tudo isso para minha querida diretora LILY, aquela que abriu essa nova porta e ela diz:
"tem que pensar que tudo está somando acrescentando".

Sim acredito que novas camadas se constituem!
E que estou indo ao encontro da minha INTEIREZA!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Substituições

Fui convidada para substituir uma palhaça em um espetáculo aqui do RS - CINTA LIGA/DESLIGA!

Antes de contar detalhes sobre esse novo desafio, quero explicar o valor desse espetáculo no contexto da busca pelo meu solo. Assisti o trabalho em 2010 no EEPA, me diverti muito e me perguntei: o que eu tenho para dizer? O CINTA LIGA/DESLIGA foi um divisor de águas! Foi onde me questionei sobre o que eu teria para compartilhar com os outros. No momento não tive respostas, que só vieram com o passar do tempo e o mergulho que fiz no trabalho.
O convite para integrar o espetáculo foi um presente, uma possibilidade de viver de outra forma minha relação com o CINTA!
Eis que veio o grande desafio: o primeiro ensaio!
Substituir é muito diferente de um processo de criação própria. No AMOSTRA sempre fui eu "comigo mesma", todas as escolhas, decisões, dificuldades e vitórias. Na substituições existe uma estrutura prévia, jogos, desencadeamentos e outras companheiras de cena que dependem dos acontecimentos da forma que foram estruturados. Por outro lado há também uma necessidade de eu encontrar meu jogo dentro dessa estrutura.
No primeiro ensaio, minha maior preocupação era com os desencadeamentos da ação dramática, o que de fato precisa ocorrer para que o fluxo, a lógica da cena se mantenha. Em alguns momentos já consegui perceber quais são as minhas ações, os meus jeitos, enfim a minha identidade diante das cenas. Em outros tenho ainda que buscar novos estados. Talvez a palavra não seja NOVOS, mas acionar diferentes estados que já conheço, que já uso no meu solo mas que no CINTA ainda não consegui inserir!
Principalmente ao que se refere a uma ação mais impositiva, furiosa ou firme, tendo em vista que sou extremamente augusta.
Essa situação me leva a outra reflexão: sou extremamente augusta, na minha essência! Entretanto, todavia e contudo, ser augusto não significa ser aquele que sempre apanha, ou que não entende! A figura do augusto possibilita também jogos firmes, com fúria e principalmente metidos a inteligentes!
Encontrar as nuances desse jogo é o atual barato!
Neste momento minha questão é a seguinte:
Será que a gente alterna as figuras do branco ou do augusto no jogo de cena ou será que temos uma essência que se revela em diferentes nuances?
Essa é a dúvida do momento!