Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um mundo...

Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo em minha vida...
Não to conseguindo parar.
Mas preciso registrar o último espetáculo: terça-feira, dia 23 de novembro na Sala Álvaro Moreyra.
Foi lindo!
Meu foco era SENTIR...
A idéia era poder sentir, conectar mais fundo com meu "mundo interior", deixar as coisas me tocarem mais - as ações de cena, a platéia.
Diferente do jogo, da conexão com o público, eu queria experimentar o TEMPO - de espera, de olhar e de escutar... Coisas que conversei com meu amigo Ítalo.
Neste dia, a platéia foi composta por GRANDES amigos, pessoas que passaram por minha vida em diferentes épocas e lugares - um mais querido que o outro. Colegas da graduação, meu orientador de mestrado, colegas de início de teatro em Porto Alegre, alguns desconhecidos, mãe de aluno...
Uma surpresa maior que a outra!
Alguns nunca imaginei que apareceriam, ME SENTI HONRADA, querida, feliz...
O terceiro dia de espetáculo fechou com a estrutura completa, com o jogo e com o sentir.
Saldo mais que positivo!!!
Agora é a hora de começar a avançar em algumas coisas, voltar para a sala de trabalho para retomar, explorar...ar, ar, ar!
Lembrei de uma frase do Avner, acho que ele chama de os mandamentos do palhaço:

1. A função do palhaço é a de fazer público sentir emoções e respirar.
2. Todos inspiram, mas muitos de nós devem ser lembrados de expirar.


LU obrigada pelas dicas preciosas, cada uma delas foi um presente que vou cuidar com carinho.
Amigos, mais uma vez, muito obrigada pela presença e pelos olhares generosos, e sim obrigada pelos SORRISOS ESCANCARADOS!!!!!
Beijos

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pensando em mais coisas...

Ando lendo muitos textos sobre a arte do palhaço, mas adianto que tenho uma predileção pela maneira como o Ricardo Puccetti escreve - tudo aquilo que parece confuso aparece de forma clara na escrita dele.
Mas enfim, a última coisa que li me deixou "com uma pulga atrás da orelha", era algo que ele havia dito na oficina e que por alguma razão eu deletei e agora vem a tona.
Segue aí uma parte do texto:



Esta entrada contém em si todos os elementos que um espetáculo de clown, no meu modo de ver, deve possuir: a apresentação do clown; a relação direta e verdadeira com cada pessoa do público; e a transformação deste mesmo público pelo riso e pelo saborear dos mais distintos sentimentos. (Puccetti. Caiu na rede é riso, p. 89. Revista do Lume)


As três táticas têm o mesmo efeito: quando estes clowns aparecem o público gosta deles e quer que eles continuem em cena. Entretanto, apesar dos diferentes modos, basicamente todos obedecem a uma mesma estrutura: entram, e é como se jogassem uma isca, com a qual vão fisgar alguém da platéia e, através deste primeiro contato, vão ampliando sua relação, estendendo-a para as demais pessoas, como se as envolvessem numa rede. A imagem da isca e da rede de pesca ilustra muito bem a situação.
(Puccetti. Caiu na rede é riso, p. 90. Revista do Lume)


Fiquei então pensando, qual a minha tática inicial, para "fisgar" o público, afinal começo meu espetáculo dormindo, sem nenhuma ação direta, olho-no-olho com a platéia.
Acho, no caso do AMOSTRA GRÁTIS, que isso acontece em doses homeopáticas, conforme vou desencadeando cada ação junto ao público. Por enquanto, a maneira que encontrei é essa, deixando me verem...só!
Mas buscarei novas formas para isso!!!!

Beijos

Amanhã tem AMOSTRA GRÁTIS
No mesmo bat-local e bat-horário!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tentando entender

Tava relendo meus relatos de apresentação...
E fiquei tentando entender qual a diferença entre, o riso contido da minha primeira platéia, para o riso contido da segunda platéia.
Acredito que basicamente a minha percepção.
Na primeira apresentação minha preocupação era  realizar o espetáculo, dar conta de tudo o que tinha feito, manter a estrutura, já na segunda apresentação meu enfoque era jogar, jogar, jogar.
E com essa nova intensão, redimensionei a cena, assim como minha relação com o público pois, de fato, na segunda vez consegui olhar com calma, perceber, curtir...
E, de certa forma, acredito que, se eu estava mais aberta para ver e compreender o público acabo por construir um elo mais forte com o mesmo.
Acho que é isso - no momento!


“A relação com o público também é um fator que permite ao clown crescer sempre, mudar e até se contradizer. Quando o clown está inteiro na relação com ele mesmo, conectado com seus impulsos e sensações, e também pleno na relação com o público, neste momento, os dois lados estão em transformação, ninguém é mais o mesmo. (PUCCETTI, O clown através da máscara. Revista do Lume)

Felicidade GRÁTIS ou relato da segunda apresentação

Ontem foi meu segundo dia de espetáculo oficial.
Foi MUITO, MUITO bom!
Estou feliz com o resultado.
Me senti ligada ao público, conectada, não dependente dele. Era como um jogo de cumplicidade e reciprocidade. O riso era contido, mas não me apavorou, porque estava em relação o tempo todo. Eu estava aberta para isso.
Foi um daqueles momentos em fazer teatro é algo mágico e significativo.É isso que eu quero para mim e para o público - sempre!
Consegui executar meu roteiro de ações e brincar com tudo o que apareceu pela frente.
Ainda preciso trabalhar com os números finais, deixar mais precisos. Preciso aproveitar mais cada situação que eu proponho.
Meu público era composto por 7 pessoas, 4 homens e 3 mulheres - com olhares companheiros, generosos e atentos ao jogo!
Obrigada a todos!
Em especial aos meus companheiros de trabalho Pablo e Ítalo.
Um grande abraço ao Ricardo Bolognese meu colega de cena que foi exemplar!
E ao meu primeiro público fiel, Ronaldo (eu acho que é esse o nome!) que veio pela segunda vez assistir a minha AMOSTRA GRÁTIS!
Beijos


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Hoje

Hoje terei a segunda chance de reapresentação do meu trabalho.
Meu foco será no jogo, no prazer e no divertimento na cena.
Isso não significa falta de cuidado com o material já construído, mas sim uma busca para torná-lo mais orgânico, uma tentativa para recuperar a energia e a vivacidade do momento de criação que, por vezes, ficam escondidos atrás da estrutura.

Até mais!
Beijos

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mais uma chance!

Na verdade, mais duas!!!!!
Acabo de saber que, terei mais dois dias no teatro para reapresentar meu trabalho!
Mais duas chances de buscar minha INTEIREZA!

Há algo de cósmico, abrindo espaço para mim!!!
Vou aproveitar!
Valeu Pablito, que acionou o cosmos!!!
Beijos

Ops.: Não posso finalizar essa postagem sem fazer a propaganda:


AMOSTRA GRÁTIS
Dias 16 e 23 de novembro - terças-feiras
Sala Álvaro Moreyra
20:00
Porque dá pra perder a cabeça!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

NASCEU!

Enfim, nasceu o pequenino!
A estréia foi nessa terça-feira dia 09 de novembro...
Bom, o que dizer:

Primeiro - a única coisa que não poderia acontecer, aconteceu e eu não estava preparada.
Me virei, mas me abalei!
Segundo - foi tudo direitinho, mas podia muito mais. Eu queria muito mais!

Mas como dizem minhas amigas - sou muito crítica com meu trabalho - "é só ler teu blog Ana"!
Então vou fazer duas análises, a primeira versão SUPER SINCERA e a segunda uma versão POLIANA!
Antes de tudo, cabe um pequeno relato. O espetáculo trata da história de uma palhaça que compra um companheiro por catálogo. Quando o companheiro (um boneco de 1,80 m) chega ela faz milhares de coisas com ele até que, arranca, aos beijos, a cabeça dele. Com isso vem tentativas de reanimação, um velório e por fim a escolha de outro companheiro no público - para fazer tudo novamente e se possível, um pouco mais!!!
Bom, o que aconteceu (e que não poderia acontecer)  é que a cabeça do boneco caiu na primeira cena e, tive que me virar para sustentar a maior parte dos números com uma cabeça bamba.
Deu para ajeitar um pouquinho, mas confesso que fiquei muito frustrada com o resultado.
Então, vamos ás análises!

Análise SUPER SINCERA
Fui cedo para o teatro depois de uma banho de chuva...
Tudo bem, estava animada apesar do medo.
Ajeitamos tudo (eu e Pablito) e consegui fazer dois ensaios para marcar luz e som.
Antes de iniciar resolvi rever a cabeça para que tudo ficasse certo - algo me dizia que ela poderia me surpreender. Recolei com fita. Tudo ok!
Fui para cena.
O público era contido, mas composto por amigos MUITO, MUITO queridos.
Durante o jogo lembrei da minha amiga Cacá dizendo, sobre o texto do Peter Broock de não ser refém do riso!!!! Lembrei do Ricardo dizendo " não fica insistindo naquele olhar mais fechado! Não precisamos ter a gargalhada o tempo todo!". Isso tudo passou em questão de segundos na minha cabeça! Loucura!
Confesso que prefiro o riso frouxo ao sorriso! Gosto da gargalhada, ela me deixa segura. Mas eu estava curtindo, gostando de estar lá, então não me preocupei.
Eis que meu excelentíssimo colega de cena me deixa na mão! A cabeça cai no ínício do espetáculo e não no final como o previsto, o que fez com que eu tivesse que fazer a maior parte dos números de forma tímida.
SIM, SIM, SIM - eu sei que eu devo aproveitar tudo! Que o imprevisto pode se tornar o grande jogo do momento...mas eu queria tanto poder realizar aquelas ações que eu havia preparado...
To me sentindo uma "menininha mimada" relatando isso!!!! eu quero, eu quero, eu quero!!!!
Mas foi o que senti, e me propus a ser sincera neste blog e, neste momento, SUPER SINCERA.
Eu consegui jogar mas não era aquele estado extremamente forte, alterado, prazeroso, no qual tudo vale!
Também não tenho certeza sobre a impressão da platéia - lembrei novamente do Ricardo Puccetti dizendo que a gente precisa educar nosso olhar e nossa percepção, para entender a platéia e como ela reage diante do nosso trabalho. Não é fácil!
Resumo da ópera - tenho estrutura, falta jogo!

Análise POLIANA
Tudo é aprendizado!
Como acabou de dizer meu amigo Rafael - "tu deve ter aprendido muito"
Bah! Respondi!
Aprendi mesmo! Agora tenho no mínimo três formas de resolver a possível repetição desse problema. Formas que espero não sejam necessárias, mas que, se forem precisas, pretendo utilizá-las de maneira divertida.
Sim, acabo de aceitar o fato que posso me divertir e sair completamente do previsto! Isso faz parte e é extremamente necessário (é o básico!). Viva a estrutura que eu consegui criar, mas VIVA tudo o que eu posso fazer com ela e além dela!!! Vou apostar no jogo!
Continuo aproveitando pouco as situações mas estou mais tranquila! Fiquei tranquila até quando não me senti inteira dentro do jogo!
Consegui mesmo na frustração manter o roteiro que tinha proposto.
No´final a platéia toda veio me cumprimentar - isso deve ser um bom sinal!
E eram 35 no total!!!! Isso é uma façanha para uma noite de chuva de terça-feira em Porto Alegre. Tá certo que a platéia, na maior parte, era composta por amiguinhos, mas tinham umas 15 pessoas que eu nunca vi na vida e vieram com muito sorrisos e abraços! Bom!!! Poderiam ter simplemente ido embora, quietinhos!
Meus queridos amigos deram ótimos retornos, mas principalmente ótimos abraços! Eu estava com saudades deles e não os via há muito tempo.
Os olhinhos do meu filho brilhavam! Adorei!
Mas o que mais curti na verdade foi o final!!!! Não pelo fato de ser o fim, mas porque após a morte do meu companheiro de cena, arrumei fácil outro na platéia e foi muito divertido - acabei na cama (não com Madona) com o público! Com direito a medir parte do corpo e  fazer e ganhar massagem. Sim, eu tenho consciência que poderia ter explorado mais, mas não fiquei frustrada com isso, sei que é uma caminhada! Olha que POLIANA isso!

Entre mortos e feridos - sobrevivi! Depois dessa análise, talvez melhor do que imaginei.
Estou feliz com a experiência!
Estou esperando a próxima oportunidade para apresentar  novamente o trabalho!
Quero sim poder refazer muitas vezes, me redescobrir e construir o espaço certo para me colocar e me sentir inteira!
Beijos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Amanhã

É AMANHÃ!
Sim, passou rápido, muito rápido!
Amanhã às 20:00 na Sala Álvaro Moreyra - AMOSTRA GRÁTIS

Meus sentimentos são uma gangorra! Pior que hormônio feminino!
Por vezes tudo está misturado: euforia, medo, alegria, pavor...
Sonho com palhaços seguidamente!
Essa noite foi a farra deles, mas lembro somente de uma dupla.
Acho que estava completamente envolvida com o I CLOWNS do Fellini que assisti antes de dormir. Lindo!

Fiquei pensando muito na minha última experiência, um tanto quanto desastrosa, mas pensando muito, muito, lá no fundo, ela não foi tão desastrosa, porque afinal foram 2 horas de jogo e trabalho direto com o público. Não foi o dos melhores, mas foi...
Por vezes é preciso ver "flores em você", ou em mim mesma!!!!
beijos

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Chorando no cantinho

Hoje tive vontade de chorar, quietinha num cantinho.
Desde meu último trabalho ("primeiro experimento inteiro"), sexta-feira passada, não entrei mais em sala para ensaiar. Vários foram os motivos para eu não ter trabalhado neste espaço de tempo, mas que não justificam não ter tentado. Pura irresponsabilidade.
Resultado: corpo, mente e jogo fora de forma.
No alongamento já senti os sinais de uma semana parada. Não consegui fazer o básico que eu já fazia tranquilamente.
Tentei aquecer e, a essa altura, a sala já tava repleta de aluninhos querendo ver a performance da profe...
Comecei o trabalho, fiz de tudo, menos o roteiro que eu já tinha estabelecido.
Meu sentimento oscilava, entre a satisfação de estar jogando com coisas novas e o desespero de não estar conseguindo retomar o trabalho já construído. E, nesse espaço, entre um sentimento e outro eu conseguia me ver e olhar para a platéia com aquela carinha de -"Vai! Faz aquilo que tu fez outro dia para nós!"
Arranquei pequenos sorrisos, sinceros, mas que eu sentia que esperavam mais. Eu esperava mais! Onde estava aquele sentimento de totalidade de "inteireza" dentro da cena?
Agora lembrei de um texto que li do Ricardo Puccetti que falava sobre ir ao extremos senão o público não acredita. Vou procurar e coloco aqui depois!
Descobri coisas legais, conseguia jogar com os acontecimentos da sala, mas não conseguia lincar com o trabalho que já tinha e quando conseguia, perdia o tempo, ficava arrastado demais. Consegui arrumar problemas com todos os objetos de cena que eu usei, mas não consegui aproveitar muito, eu me aborrecia com isso. Tudo parecia meio empacado.
O estado de jogo tava baixo, muito baixo, fora do tempo como se eu não tivesse energia para me concentrar, para brincar...pior eu brincava sim, me auto-analizando! Péssimo!
Eu sei que é preciso se abrir e aproveitar o que acontece fora, para trazer esses elementos para o meu mundo - lembrei de outro texto do Puccetti, depois coloco aqui.
Mas tudo o que eu conseguia era me incomodar com o que acontecia fora. Agora vejo que, talvez eu estivesse muito ansiosa para repetir a experiência anterior ou, eu tava esperando que tudo saísse tal qual minha imaginação previa, ou pior, eu não consegui criar naquele momento o mundo da minha palhaça. Enfim... foi difícil!

Até o momento já compreendi que meu trabalho depende do público para alcançar o estado de jogo, mas hoje ficou claro que a presença do público não garante o estado de jogo! Ai, que perigo!

Por sorte, meu público é fiel e amoroso e não me abandonou, ficou ali esperando eu retomar e quem sabe acertar o compasso. Analisando agora o problema era algo que envolvia estado de jogo e tempo de cena. lembro do Ricardo Puccetti falar sobre isso na oficina, "as vezes é uma questão de segundos que a gente passa do tempo".
Retomei, comecei a pegar o "pique" (pensei, bah consegui!) e o boneco se desmontou sozinho na coxia, a cabeça caiu, simplesmente caiu!. Eu não podia acreditar!
Brinquei um pouco com a situação, mas eu queria poder retomar o espetáculo... Afinal daqui a 4 dias eu estréio!
AI QUE MEDO!!!

Resumo da Ópera, recomecei umas três vezes, no final, consegui repassar a proposta do roteiro, com MUITAS alterações (é claro!), mas sem aquele sentimento de que é possivel fazer com tranquilidade e alegria.
AI QUE MEDO! Um balde de insegurança caiu na minha cabeça!
Mais tarde sigo contando minha saga!
Beijos aos que me acompanham!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

E o palhaço o que é?

Tenho pensado muito sobre as características da minha palhaça - o que ela é?
Qual a lógica que conduz minhas ações quando porto o nariz?
Cabe aqui revelar que, por vezes, me pergunto - será que tenho uma palhaça? Será que sou uma palhaça?
Bom, questões complexas que não pretendo responder aqui...até porque tenho medo das possíveis respostas!
Mas enfim, antes que questões complexas acabem por me paralisar, sigo pensando no meu trabalho, e trabalhando muito, mesmo que os pensamentos sejam confusos!
 
Fiquei, então pensando em algumas características que se repetem de maneira espontânea no meu jogo:
Charme - sou metida a charmosa, pisco, rodopio, me exibo.
Altero ações delicadas com ações brutas - tá, mais brutas que delicadas!
Não aguento quando alguém ri, tenho que me divertir junto!
Meiga e querida apesar de bruta e um tanto porca!

Nossa! Só consigo reconhecer isso! Na verdade não é um reconhecimento, isso foi apontado por professores, amigos e público em geral, que vê minhas improvisações e depois comenta.
A questão do charme eu já tinha captado, mas tive que assumir com tudo durante a oficina do LUME. Nesta mesma oficina o orientador Ricardo Puccetti também chamou a atenção para o caráter bruto que as vezes tenho "uma coisa bem gaúcha", segundo ele! Mas isso ficou gritante depois da primeira experimentação que fiz do meu trabalho, no final um amigo (o Japa) olhou e disse "ela destrói tudo o que toca! Quando não destrói emporcalha!" Olhei a minha volta e realmente o cenário tava em pandarecos, flores desfolhadas, pasta de dente no chão, boneco quebrado...uuiiiii!

Tenho que prestar atenção às minhas ações e à lógica que as conduz!
Ai meu Deus, mais uma coisa para pensar, observar, compreender!!!!! Vamos lá!
Não tá morto quem peleia!
Segue um trecho do livro A ARTE DE ATOR do Luís Otávio Burnier:

"Um avanço importante, no amadurecimento de um clown, é quando o ator encontra o modo de pensar de seu clown. É o modo de ser e pensar do clown que determina todas as suas ações e reações, sua dinâmica, seu rítmo. Não se trata de um pensar puramente racional, mas de um pensar corpóreo, muscular, físico. É o corpo que age e reage segundo a lógico do clown. É um pensar também afetivo e emotivo. Mas, sobretudo, o aspecto corpóreo desta afetividade e emocionalidade." (BURNIER, 2001, p.219)

Coisas para ficar atenta:
estado de jogo
construção das ações e do repertório
lógica das ações

Acredito que tudo isso está juntoemisturado, apesar de serem coisas distintas estão interligadas!

Estado de jogo

Continuo estudando, lendo e relendo muitas coisas sobre o clown.
Encontrei algumas definições para estado de jogo que quero deixar registrado aqui e compartilhar...com aqueles que me lêem!

"O estado de clown seria o despir-se de seus próprios estereótipos na maneira como o ator age e reage às coisas que acontecem a ele, buscando uma vulnerabilidade que revela a pessoa do ator livre de suas armaduras. É a redescoberta do prazer de fazer as coisas, do prazer de brincar, do prazer de se permitir, do prazer de simplesmente ser. É um estado de afetividade, no sentido de "ser afetado", tocado, vulnerável ao momento e às diferentes situações. É se permitir, enquanto ator e clown, surpreender-se a si próprio, não ter nada premeditado, mesmo se estiver trabalhando com uma partitura já codificada. Por isso é que, quando o clown está atuando e passa um avião, por exemplo, ele não consegue ficar alheio ao avião, ele tem que ter a capacidade de trazer o avião para dentro da sala onde está representando. O estado de clown é levar ao extremo a importância da relação, a relação consigo mesmo, o saber ouvir-se, e a relação com o "fora", o elemento externo, o parceiro, os objetos de cena, as pessoas do público"
(PUCCETTI, Ricardo. Riso em 3 tempos. Revista do LUME)

"O clown exemplifica a existência desses estados no trabalho do ator. Isso pode ser exemplificado de duas formas. Na primeira poderíamos compreender que esses estados se caracterizam por microações que, embora não sendo perceptíveis ao observador, existem no corpo do ator, ocasionando um fluxo de energia que altera a presença cotidiana e resulta numa alteração da percepção que o observador tem do ator. Uma segunda explicação poderia ser entendida como resultado da ação, nesse caso um conjunto de ações físicas provocaria como resultado o acionamento de determinadas energias cospóreo-vocais, que configurariam, então, a percepção de um estado alterado no corppo do ator."
(ICLE, Gilberto. Ator como Xamã. São Paulo: Perspectiva, 2006)