Foto Guto Muniz
Queridos colegas, leitores e curiosos, a crítica que segue é para encantar a alma - pelo menos a minha!!!!
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26/06 – por Valmir Santos
Há algo de muito triste na alma de todo palhaço. A criação e atuação de Ana Fuchs é digna dessa filiação que, no caso do cinema, pode-se dizer felliniana de nos fazer rir com uma ponta de dor lá no fundo da alma. A radiografia da solidão humana apresentada em “Amostra grátis” é primorosa. A solidez em semear e colher o riso é dada aos olhos do público com muita perspicácia na íris, na postura física, na habilidade em delegar aos objetos e aos figurinos a mesma dignidade suposta na composição da figura cômica plena de humanidade desde a ponta de seu nariz vermelho.
Quando a cena começa, já somos íntimos da casa da palhaça devidamente paramentada. Escovamos os dentes com ela, passamos batom e somos surpreendidos pela campainha. Ao desembrulhar a sua encomenda, ela enreda o público por uma crônica amorosa. Somos cúmplices da sua relação com um manequim com quem monologa sua paixão e uns passos de dança embalada pela canção italiana.
O encantamento passional é tanto que ela quebra o boneco-fetiche, chora sua morte e desvencilha-se rapidamente do luto para uma nova aventura, fita métrica em punhos, para medir os homens que encontrar. Como o espectador que saúda na primeira fila, puxa para si e salta em seu colo.
Ana Fucks tem o público nas mãos e em nenhum momento se gaba disso em cena. Sabe que não está sozinha, carrega consigo a tradição milenar do circo, dos mestres palhaços dos antigos pavilhões e lonas que marcaram o interior e algumas capitais do Brasil no início do século passado. Daí o despojamento serelepe no modo de cativar com sua pesquisa patente em torno do gênero, sua assertividade para com os estados de humor da vida. Sua palhaça jamais excede, até nos momentos de exagero deliberado. Deixa-se guiar pela menor grandeza numa cena que é número circense e drama teatral. Equilibrá-los é a transcendência que nos envolve.