Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Entre a pomba e o urubu

Ontem mostrei o vídeo do meu trabalho com a Odelta para alguns alunos...
Alguns me confundiram com a Ode, jamais me imaginaram naquele outro estado! Jamias me imaginaram na figura do branco!
" Nunca pensei que fosse tu professora!"
" Muito diferente"
" Parece mais quieta!"

Ainda me surpreendo com a nova forma! Reconheço, mas ainda me surpreendo!
Sei que faz parte do conjunto da obra.
Sei que é mais uma face do meu palhaço.
Mas quero ver essas diferentes faces em unidade, em diálogo, ainda não vi na totalidade da ação, na cena, na energia.
Consigo ver, lembrar e sentir cada estado separado.
(Talvez a unidade já esteja presente, eu é que não não percebi!)

Quero ver o conjunto, a unidade em ação!
Talvez por isso ainda me surpreenda! Talvez porque ainda é tudo novo!
Perguntas e respostas, só o trabalho dirá!

Minha figura anterior (a do meu solo) carrega na cabeça uma pomba branca. A nova figura (do 123 e chá) tem consigo um urubu no ombro...
Expressivo não?
Quero ver a pomba e o urubu juntos!

Entrando na Floresta

Entrei na floresta, mergulhei fundo na escuridão, no desconhecido, procurando as flores mais raras.
Entrei, mergulhei e encontrei o que eu buscava!
Depois de muito olhar, reconheci...
As flores raras eram as mesmas que já estavam no meu jardim!

"As vezes é preciso ir à floresta para descobrir que as flores raras já estavam no seu jardim".
Essa frase foi dita pelo meu amigo palhaço Cícero Silva, o Titetê, quando contei sobre a minha grande experiência de ser uma palhaça branca! "Eu já sabia" completou ele! Obrigada querido!

Quando o trabalho com a Lily, me levou ao reconhecimento das minhas características do jogo do palhaço branco, parece que rapidamente eu revi toda minha caminhada e que as coisas então passaram a ter sentido e explicação! Tudo se encaixava!
Tão obvio, tão latente...
Mas nem sempre conseguimos ver o óbvio...as vezes precisamos ajuda!

Então além de uma agradecimento ao meu amigo Titetê que trouxe a imagem mais linda para esse momento, preciso agradecer a minha generosa amiga ODELTA, por me possibilitar o jogo, a contraposição, o sonho e o afeto. Parcerias não se escolhem, elas surgem como presentes! E a Ode é meu presente!
Tem também o mega obrigada a LILY, que cuidadosamente me deu a mão e me conduziu nessa caminhada. Graças a ti Lily dei meu passos nessa nova trajetória de maneira segura e feliz!
Reconhecer cada vez mais a minha palhaça e a mim é algo transformador - transmutador!



Fecho essa postagem com um conto do Eduardo Galiano, que diz mais ou menos assim:
Um pai levou o filho para conhecer o mar.
Diante daquela beleza e imensidão o filho diz
- Pai me ajuda a olhar!

Me sinto na frente do mar, rodeada de amigos, de mãos dadas, tentando olhar a imensidão! 





terça-feira, 3 de dezembro de 2013

INTEIREZA, IDENTIDADE...

Aceitação
Permissão
Revelação
Inteireza
Identidade
Plenitude
Luz
Sombra
Fragilidade
Força

O trabalho do palhaço nos coloca diante de tudo o que somos. Nos apresenta para 'nós mesmos", nos assusta ao mesmo tempo que nos acolhe.
Há tempos atrás provavelmente eu não aceitaria me ver como uma palhaça branca...Imagina!
Mas tenho registrado no corpo, nas sensações o sentimento de plenitude que foi poder me ver diante de todas as minhas facetas, até mesmo as mais obscuras e poder vivê-las na sua potência!
Então não foi uma questão de aceitação da figura do branco em mim, mas de acolhimento de quem sou!
Lembro da sensação de paz que me invadiu!
E tranquilamente abri os braços para meu novo papel!
O grande barato é que se na vida cotidiana, preciso acionar filtros ou transformar alguns comportamentos e energias que, com o trabalho do palhaço, posso vivê-los na sua plenitude e isso sim me dá condições de entender, transformação e elevar meus sentimentos.
O que eu sou, eu reconheço e  me permito viver e sentir fora ou dentro de cena!
Realmente é muito tênue a linha entre o eu e o palhaço.
Com certeza o palhaço é a potência maior de nós mesmos

domingo, 24 de novembro de 2013

REVIRAVOLTA

Estou em pleno processo de construção do nosso espetáculo de dupla - 1,2,3 E CHÁ!
Eu e a Odelta imersas totalmente no trabalho, aqui em Floripa com a Lily Curcio (palhaça super hiper mega power rangers), que está nos dirigindo.
Então eis que acontece uma reviravolta: NÃO SOU AUGUSTA SOU BRANCA!
Louco? Sim, loucura total!
Acabo de ler minha postagem anterior, em que afirmo que sou augusta, extremamente augusta...
E agora me descubro branca!
O que fazer com isso?
Ainda estou em estado de choque. Mas num estado de choque de muita felicidade. Só ainda não estou conseguindo entender tudo isso.
Bom primeiramente, até o momento nunca tinha vivido os aspectos do jogo do Branco no meu trabalho. Basicamente eu reconhecia a figura meiga, fofa, ingênua, um pouco atrapalhada, com alguns rompantes de fúria, de força e de pseudo-inteligência. De certa forma, era assim que eu gostava de ser vista! Linda, querida, engraçada, generosa. Esse era meu nome GENEROSA. Nunca carreguei esse nome com muito orgulho, mas achava que de fato revelava quem eu era.
Com essa imagem e esse trabalho passei por alguns mestres que de fato me fizeram explorar diferentes nuances do Augusto. Vivi situações que me deixavam claro que eu era boba, muito boba.

Mas enfim, começamos o trabalho com a Lily e bastou pouco para que uma energia punk, forte, diretiva, controladora surgisse. Surgiu de forma explosiva, a partir de um trabalho dinâmico com os chacras. Era muito claro para todas nós que eu era o BRANCO da relação.
E agora José? Será que eu quero isso? Até pouco tempo sempre preferi o palhaço augusto, que é paspalho e querido por todos. Minhas referências de grandes palhaços são augustos.
Mas impressionantemente eu não me incomodei com o fato de ter me tornado a branca da relação. Pior eu estou adorando encontrar esse novo lugar. Agora sou a INHA, lembro de por um momento rolar pelo chão e dizer "ai, eu não preciso mais ser generosa!". É claro que essa figura forte, mais entendiada, irritada não excluí as outras características da minha palhaça que ao longo dos anos fui descobrindo ou construindo. Todo o material novo se funde com o antigo, criando novas camadas, novas nuaces, novas possibilidades. Não deixei de ser quem eu era, mas me vi uma nova face que desconhecia, ou não me permitia revelar.

Mas que eu fiquei impressionada, fiquei!
Nunca eu tinha me visto nesse estado?
Como ninguém viu?
Será que essa "brancura" é resultado de um momento que estou vivendo? Do conjunto da obra? Do momento e da relação com a Odelta que tem um jogo bem mais paspalho que o meu? Pode ser!

No momento quero ver onde vai dar! Tenho encontrado coisas incríveis, pelo simples fato de aceitar e buscar explorar essas características. Como elas se sustentarão ou reverberarão para os outros trabalhos, ainda não sei. Só o tempo e o trabalho dirá.

Mas algumas coisas curiosas da minha vida privada precisam ser reveladas, porque acredito que tenham ligação direta com esse novo olhar, esse redescobrir da minha palhaça.
O fato é que esse ano (na terapia) passei a olhar para minha "sombra". Olhar em mim, aceitar que eu não era só "legalzinha, meiguinha, bacaninha"! Esse ano fiz o exercício de olhar para o melhor e para o pior de mim, para tudo aquilo que aprendi que não era bacana revelar (a fúria, a inveja, o tédio, o controle sobre o outro, etc). Negar esse meu lado escuro estava me acarretando problemas. Então assim como olho para meu lado bom, meigo, autruísta, alegre, olho para meu lado perverso, mau, cansado, furioso.
Esse movimento me colocou mais inteira e tranquila diante do mundo.
Mas terapia é terapia e palhaço é palhaço! Ponto, disse! Entretanto, todavia e contudo a linha é tênue!
A grande questão é que o palhaço é o revelador da alma que o carrega! É a partir do humano de cada um que ele se constitui, então eu precisa ir ao encontro de mim, na minha totalidade.
Penso que aceitar um Branco é como aceitar viver a própria sombra.
É um exercício de generosidade imenso, assim como um augusto coloca a cara a tapa e apanha para revelar toda nossa fragilidade, me parece que o branco nos mostra sempre o quanto cruéis podemos ser.

Preciso ler mais sobre isso, preciso entender o que acontece!
Então: sou branca ou augusta?
Eu diria que agora me sinto INTEIRA

Alice Viveiros de Castro diz que se a gente se limitar a somente dois pólos a gente perde a gama de possibilidades, a riqueza das diferenças que existem entre esses dois aspectos aparentemente tão estanques! Gosto disso!

Acabo de contar tudo isso para minha querida diretora LILY, aquela que abriu essa nova porta e ela diz:
"tem que pensar que tudo está somando acrescentando".

Sim acredito que novas camadas se constituem!
E que estou indo ao encontro da minha INTEIREZA!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Substituições

Fui convidada para substituir uma palhaça em um espetáculo aqui do RS - CINTA LIGA/DESLIGA!

Antes de contar detalhes sobre esse novo desafio, quero explicar o valor desse espetáculo no contexto da busca pelo meu solo. Assisti o trabalho em 2010 no EEPA, me diverti muito e me perguntei: o que eu tenho para dizer? O CINTA LIGA/DESLIGA foi um divisor de águas! Foi onde me questionei sobre o que eu teria para compartilhar com os outros. No momento não tive respostas, que só vieram com o passar do tempo e o mergulho que fiz no trabalho.
O convite para integrar o espetáculo foi um presente, uma possibilidade de viver de outra forma minha relação com o CINTA!
Eis que veio o grande desafio: o primeiro ensaio!
Substituir é muito diferente de um processo de criação própria. No AMOSTRA sempre fui eu "comigo mesma", todas as escolhas, decisões, dificuldades e vitórias. Na substituições existe uma estrutura prévia, jogos, desencadeamentos e outras companheiras de cena que dependem dos acontecimentos da forma que foram estruturados. Por outro lado há também uma necessidade de eu encontrar meu jogo dentro dessa estrutura.
No primeiro ensaio, minha maior preocupação era com os desencadeamentos da ação dramática, o que de fato precisa ocorrer para que o fluxo, a lógica da cena se mantenha. Em alguns momentos já consegui perceber quais são as minhas ações, os meus jeitos, enfim a minha identidade diante das cenas. Em outros tenho ainda que buscar novos estados. Talvez a palavra não seja NOVOS, mas acionar diferentes estados que já conheço, que já uso no meu solo mas que no CINTA ainda não consegui inserir!
Principalmente ao que se refere a uma ação mais impositiva, furiosa ou firme, tendo em vista que sou extremamente augusta.
Essa situação me leva a outra reflexão: sou extremamente augusta, na minha essência! Entretanto, todavia e contudo, ser augusto não significa ser aquele que sempre apanha, ou que não entende! A figura do augusto possibilita também jogos firmes, com fúria e principalmente metidos a inteligentes!
Encontrar as nuances desse jogo é o atual barato!
Neste momento minha questão é a seguinte:
Será que a gente alterna as figuras do branco ou do augusto no jogo de cena ou será que temos uma essência que se revela em diferentes nuances?
Essa é a dúvida do momento!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Meditação

Sempre inicio o espetáculo deitada no meu puf rosa!
Fico bem encolhidinha quase em posição fetal, para que meu pequeno casaco consiga cobrir o máximo de mim!
 A ideia é que o público entre e já perceba que algo está acontecendo (mesmo sem acontecer - o acontecimento, sem acontecimento). O público entra e a atmosfera já é outra, a luz já é outra e as poucos ele percebe que está num outro espaço, pronto para uma outra relação! Aos poucos ele percebe que tem algo no palco, mas sem ter muito claro o que é.
Um amigo que viu me disse " não sabia o que era. Se era um boneco, ou tu..."
Nesse momento em que fico imóvel, simplesmente respirando e rezando (para que aquele encontro seja significativo para todos, para que eu possa compartilhar o melhor de mim e que meu ego não se sobreponha a tudo) tenho experimentado um estado novo.
Na primeira vez que isso aconteceu (em Brasília) achei que eu tivesse dormido! Pensei "dormi, to exausta! Que horrror, to no maior festival de palhaço do país, te liga Ana!". Simplesmente neste momento em que estou concentrada na respiração e rezando eu caio no sono. Durmo, saio fora da casinha!
Na segunda vez que isso aconteceu, eu tava em outro festival, e cai no sono duas vezes, mas na segunda uma imagem veio na minha mente - como se aquele espaço estivesse se desgrudado, como uma parte do mapa que se desprende e desliza para o universo. Lembro da sensação de que só nós existíamos naquele momento!
Então compreendi que naquele momento, a imobilidade, a respiração e a oração me levam para um estado de meditação. Adorei isso!
Contando para minha estagiária sobre essa sensação, cheguei a conclusão de que isto está acontecendo neste momento, porque já não tenho mais a preocupação de repassar na mente todo o espetáculo, não tenho mais medo de esquecer e posso me concentrar no presente.
Minha estagiária a Clarice disse: "isso é incrível e tu estar entregue para aquele instante"
Daí me dei conta da importância disso!
O que existe, já existe, não tenho que me preocupar com a estrutura ou tudo mais, só estar presente!
Viva o sono, viva a MEDITAÇÃO!

Aprendendo, crescendo, amadurecendo ou o que aprendi em Goias Velho!

Não lembro da minha última publicação...
Mas para colocar (o possível) leitor a parte dos acontecimentos, é o seguinte: voltei para a sala de trabalho para iniciar um novo número, saí da sala de trabalho (kkkkk, só porque milhares de coisas começaram a acontecer) e fui para Goias e Mariana em dois festivais!

GOIÁS VELHO - terra de Cora Coralina! Quente, ensolarada, linda! Devem ter uns 50 carros (se muito!) na cidade e milhares de pássaros! Tem um sorvete de figo imperdível! Tem uma arquitetura deslumbrante! tem um povo mágico!
Mas enfim, é do trabalho que preciso falar!
A oficina foi maravilhosa, três grupos, três desafios, três lindos encontros com as pessoas e com meu trabalho! Trabalhar com palhaço na minha escola, em que já se constituiu uma cultura de palhaçaria no contexto escolar é uma coisa... trabalhar com adolescentes que nem imaginam o que vão experimentar é outra! O grande barato foi o desafio! Como envolver? Como possibilitar num curto espaço de tempo uma vivência intensa o suficiente para que o que foi experimentado e visto seja significativo e toque um pouco a alma de cada um? Para mim a oficina, as aulas tem um objetivo comum ao espetáculo: compartilhar, tocar o outro, envolver as pessoas numa atmosfera de jogo e afeto! Tá foram 3 ou 4 objetivos!!!!!
O espetáculo...uau! Esse foi MUITO LOUCO!
Com certeza se estabeleceu uma ligação muito forte entre o trabalho e a plateia. O sentimento era de união! Como se só aquele espaço e aquele momento existisse! Experimentei o sentimento de inteireza! O jogo foi forte e fluido e a plateia respondia a tudo. Consegui perceber e descobrir muitas nuances novas nas ações como por exemplo quando começo o strep tease e a galera grita, ao invés de apostar mais na sensualidade, aproveitei para quebrar essa lógica e ficar surpresa, feliz com a descoberta dessa possibilidade! Ui, acho que não fui clara! Abri um botão, dois e o público gritou, assoviou... eu parei olhei e me desmontei, apertei as mãos de felicidade porque a palhaça tinha se descoberto sensual!
Agora lembrei do Pepe dizendo: "o público deve achar que tudo foi criado naquele instante, em função do que está acontecendo no momento" (mais ou menos isso)
Lembrei do Avner: "ser mais sutil, mais recatada", "triangular quando o público rir, bater palma ou resolver a situação"
Mil vivas para os mestres!

Mas nem tudo são flores!!!
Teve um momento que o espetáculo se perdeu! Mas a ação se perdeu, o foco da plateia com a cena se perdeu, mas incrivelmente a conexão entre nós, parece ter se mantido apesar do "buraco" nas ações de cena. No momento da festa de camisinhas, em que muitas camisinhas cheias são soltas pela plateia como balões, o público se dispersou, ficou mais tempo se divertindo com o jogar balões uns para os outros e eu não consegui puxar o foco, a atenção para o retorno da cena.
Simplesmente continuei com o roteiro de ações, mesmo sabendo da queda no fluxo da cena, mesmo tendo consciência do momento disperso que tinha se criado... Mas não me incomodei com isso! Segui o trabalho! E aos poucos o público novamente estava comigo!
Depois fiquei pensando sobre o que tinha acontecido, o público se divertiu com o momento, mas eu fiquei um pouco frustrada ao ver poucos balões (porque poucos encheram as camisinhas e porque nós não providenciamos muitas cheias para jogar), me pareceu sem graça, sem efeito! Porque na hora eu me vi cansada, sem energia ou com vontade para outros esforços! Louco isso, eu nunca me percebi exausta para tentar resolver um problema de cena, mas naquele dia aconteceu duas vezes! Por dois momentos meu pensamento foi maior que minha ação, ou melhor, não estava em sintonia, no presente, no aqui e a agora, por dois pequenos momentos eu consegui me ver de fora e fazer uma brave análise! Bom, uma análise instantânea. Tenho claro que esses dois momentos poderiam ter colocado abaixo o espetáculo... mas acho que sei porque não colocaram, porque não me importei com o sentimento ou com a análise que dizia que algo estava dando errado, ou de que estava exausta! Meu sentimento, minhas sensações eram tranquilas em relação ao que estava acontecendo, quase que como uma permissão, um aceitar, lembro de pensar "deu merda, mas tudo bem, segue em frente"!
Acredito que esse sentimento, me permitiu manter investindo na qualidade do material que existia e não focar no desespero do erro ou na frustração por não ter feito aquilo que eu já fiz dar certo! Ok, aconteceu!
Uma coisa ficou clara: deu errado, ok, sem problemas! O importante é manter-se sempre em frente calcado no que dá certo e não no erro! Ok respirar! VIVA O AVNER NOVAMENTE!
Todos esses sentimentos e pensamentos  e todas essas reflexões posteriores se referem a 8 ou 10 minutos de espetáculo! São importantes na medida que me permitem reconhecer erros e soluções! É como se eu tivesse entrado num outro estágio, numa outra compreensão da obra e suas possibilidades! Com mais segurança, domínio e entendimento do que acontece em cena. Analisando de fora poderia ter simplesmente ficado sentada, deixando o público se divertir e depois, somente depois retomar o trabalho! Poderia ter combinado com o iluminador, para que nesses momentos a luz baixe para dar foco ao palco... De fora, de fora tudo é mais claro! Dentro da ação as coisas vão clareando conforme os acontecimentos e a nossa capacidade de agir e compreender os acontecimentos na sua totalidade rapidamente no momento do jogo, utilizando nossas estruturas, nossa segunda natureza!
Já tenho novas alternativas! Como a experiência da estréia em 2010 em que a cabeça do boneco caiu antes mesmo dele entrar em cena!
TRANQUILIDADE e SEGURANÇA, nem tudo está perdido quando as coisas não acontecem como a gente prevê ou quer! Mas elas sempre se resolvem quando se está preparado para isso! E eu estava! Me ver preparada me faz pensar na maturidade do trabalho!
Bom...vou deixar o relato de Mariana para depois...esse já foi bem extenso!
Beijos

domingo, 8 de setembro de 2013

Novo número

Comecei a montar um novo número - acho que já falei sobre isso...
Enfim, estou concentrada em aprender a coreografia da Beyonce - Single ladies .
Primeiro desafio decorar a coreografia. Meu corpo não tem registro ou estruturas relacionadas a dança. percebi que minha compreensão do meu próprio movimento é patética - penso estar reproduzindo os movimentos de forma igual ou muito parecida a da artista, mas a verdade é que estou longe disso - como eu sei?
Bom, comecei o trabalho, vendo e revendo o clipe e tentando imitar cada gesto e ação da coreografia (sozinha, na sala de trabalho). Posteriormente uma aluna veio me ajudar com a coreografia, 10 minutos por dia 3 vezes por semana (na hora do recreio), nesse momento outros alunos também começaram a aparecer para ver o ensaio e começaram a rir da maneira que eu dançava.
Gente, na boa, eu estava tentando dançar bem! meu intuito inicial não era dançar igual a artista, mas reproduzir a coreografia de forma convincente e parecida. Mas devia ser patético porque os alunos, além de rir, comentavam e imitavam. A Mariana algumas vezes reproduzia o que eu estava fazendo e era totalmente diferente do que ela estava tentando me ensinar! "Não assim professora" - seguido de riso!
Ok, minha compreensão do meu próprio movimento é distorcida! imagino e sinto algo que é diferente daquilo que faço ou ainda, minha sensação e imagem em relação ao que faço é diferente daquilo que as pessoas percebem. Neste primeiro momento!
Porque no momento seguinte comecei a tentar me dar conta das distorções e investir nelas. Comecei a ampliar a maneira como eu conseguia reproduzir a coreografia. suprimi passos impossíveis e construí minha própria sequencia. Quando a Mariana veio ensaiar comigo já tinha dificuldade de copiar os movimentos em função das coisas que eu já estava codificando!
Se no início eu tive o sentimento de jamais conseguir dançar, de como é difícil, agora eu estou curtindo!
mas daí me deparei com outro conflito - o olhar do público, em específico da minha estagiária Clarice. Cabe aqui enfatizar que a Clarice é extremamente sensível, generosa e afetuosa, mas por um instante me passou um sentimento de medo e vergonha de ensaiar na frente dela.
Imagina! E se ela não achar engraçado? Se ela achar bobo?
Só para esclarecer a Clarice chegou para o estágio mais cedo e me pegou ensaiando sozinha!
por alguns minutos me fiz de boba e encerrei o ensaio tentando fugir do constrangimento de mostrar para a Cla, mas depois os alunos começaram a chegar esperando ver meu ensaio.
Me senti mais encorajada, com o olhar da criançada que geralmente me apoia muito!!!! kkkkk
Fazia muito tempo que não me sentia assim insegura!
Mas daí pensei - aproveita, experimenta!
Fui e dei atenção ao meu olho em não deixar o foco fugir da plateia! Encarei, me diverti e vi olhares afetuosos, alegres....
A plateia realmente "ATIVA O ESPETÁCULO"!
Josette Féral 
A Fabricação do teatro:questões e paradoxos. R bras.est.pres., Porto Alegre v.3, p.577, maio/agosto 2013.

Segundas e primeiras intenções

Quando comecei esse blog em 2010, meu interesse era registrar, como um diário de bordo todo meu processo na construção da minha palhaça.
Sabia que talvez em algum momento eu pudesse usar como fonte de pesquisa e talvez até como fonte do meu doutorado.
Naquela época não sabia necessariamente como ou o que se tornaria pesquisa!
Continuo não tendo claro!
Mas alguns caminhos se abrem, como compreender, através dos registros escritos e de vídeo, a gênese do palhaço ou entender como se constitui a lógica de ações do palhaço.
Isso me interessa!
Ok, ainda tudo muito amplo...
Comecei a ler sobre GÊNESE TEATRAL, acho que pode se tornar uma bom método, um bom guia de trabalho!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

RETURN

Voltei ao trabalho de sala... pra variar sozinha!!!!
Sem sofrimento! No problem!
Comecei a trabalhar um número novo - coreografia do modes!
Dois dias de trabalho corporal e fiquei um lixo.
Na sexta-feira parecia que eu carregava um elefante de tão lento e pesado o meu movimento.
Tudo bem!
Hoje volto para a sala... frio do cão em Porto Alegre!
Espero ter coragem ou falta de noção o suficiente!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PALHAÇOS EM POA

Esse mês assisti dois trabalhos de palhaços:
CONCERTO EM RI MAIOR - da Cia de Palhaços de Curitiba e
MISTERO BUFFO - do Lá Mínima de SP.

Impressionante!
Cheio de vida, de energia, de riso!
Além do trabalho que me impressionou e me faz querer seguir minha jornada, tive a oportunidade de conversar e ouvir - ouvir muitos os atores.
De tudo que foi falado e ouvido tenho duas principais coisas que não me saem da cabeça:
1. Ampliar repertório
2. Trabalhar com profissionais específicos para conduzir aos objetivos desejados
3. A formação do palhaço, via circo ou teatro, define muito as máscaras, as escolhas de cena e a energia. Ora se aproximam, ora se diferenciam muito. Tudo parte da dilatação das características do ator, mas tem algo de diferente que não sei identificar.

Bom, vamos por partes:


1. A ampliação de repertório é fundamental para abrir espaços de trabalho. Pela primeira vez, sinto que o AMOSTRA GRÁTIS não é o suficiente para eu experienciar, tudo que quero na arte da palhaçaria.

2. Buscar profissionais conforme os objetivos. O La Mínima, fez uma conferência contando sua trajetória para cada espetáculo. Cada objetivo um diretor diferente e específico, para rua, para o palco, para o tipo de encenação que pretendiam. Então, imediatamente senti que tá na hora de eu encarar de frente uma direção.
Se no início foi difícil trabalhar sem direção no AMOSTRA GRÁTIS, com o tempo passei a não querer intervenções diretas no trabalho. Peguei amor por cada momento (menos o início!). Os comentários de amigos e profissionais me bastavam para compor e redimensionar o material. Mas agora não quero começar um novo processo assim, sem um apoio, sem uma referência. E quero iniciar um material novo solo. Acho que é algo de rua... Ainda não tenho claro...
A única coisa que tenho MUITO CLARO neste momento é que quero trabalhar com um profissional que tenha formação de circo, de PALHAÇO DE CIRCO. Preciso experimentar essa nova via! Preciso agregar novos valores ao meu trabalho.
Sinto que essa nova via pode ter relação com alguns momentos do meu trabalho em que me sinto...ou que faço coisas... não sei explicar - acho que ligado a escatologia, ao jogo direto com a plateia, ao desmontar-se da imagem da minha própria figura, ao reagir diretamente sem muito rodeio sem formas físicas que minha figura fixou - sei lá... não é em isso mas é o caminho
A direção é outro problema...ter o profissional que se quer não é fácil, depende de tempo, money e interesse da outra parte! Mas não tá morto quem peleia! To rodeando o Fernando Sampaio! Quem sabe daqui a pouco rola!

3. Palhaço de circo ou de teatro - Tem diferença? Que processos envolvem a construção e o trabalho de cada um? Para mim, ao mesmo tempo que, tem coisas muito em comum, tem outros aspectos que se diferem muito! neste momento percebo assim, mas tudo pode mudar! Quero descobrir isso, quero experimentar isso, no corpo, no sentimento!

Ufassss QUanta coisa!
Tenho o trabalo com a Odelta e a Lily, tenho o AMOSTRA e quero mais! Quero experimentar outros caminhos!!!!! Mudar a paisagem!
Sou geminiana, nunca é o suficiente!!!!!

Mais, muito mais

Pra variar uma crise existencial!
Se por uma lado eu sofro, por outro fico bem feliz, porque sei que vou ir atrás de algo novo!
O pior momento é a transição até identificar esse ALGO NOVO, para correr atrás!
A primeira coisa é certa, preciso reorganizar minha rotina e incluir mais espaços de apresentação do AMOSTRA GRÁTIS - tenho medo que ele suma, desapareça, não tenha mais espaço e voz!
Tá voz nunca teve! kkkk piadinha "comigo mesma" sobre o fato do espetáculo não ter falas!
Preciso fazer minha palhaça crescer e para isso preciso estar em cena.
Voltei para o trabalho solitário em sala.
Não por opção, mas por falta de opção!
Decidi começar um material novo: uma coreografia em que eu possa incluir o trabalho iniciado na oficina do Avner com o grude (no meu caso um modes). Quero fazer a coreografia da Beyonce "Single ladies" e durante arrumar problema com o absorvente (versão power) ou com uma fita durex (versão light)
Então, me fechei na salinha (como em 2010), alonguei (rápido) e passei para a minha proposta ensaiar a coreografia. Quero ter uma estrutura para posteriormente incluir o problema.
Meia hora de coreografia e eu já estava suando, colocando os bofes pra fora! É muito difícil quando o corpo não tem o registro da dança, quando não se está acostumado a lidar com essa linguagem corporal! me perdi nos tempos, nos movimentos, no rítmo. Em alguns momentos era patético demais!
Ok, é uma palhaça tentando aprender a dançar, era eu tentando aprender a dançar! Por nenhum instante tive a intensão de errar ou fazer gracinha, investi no trabalho com a maior seriedade. Mas confesso que vendo de fora, minha falta de coordenação deve ser ridícula. Bom, é isso aí! Vou continuar investindo e ver no que dá!

Porque tudo isso?
porque sinto falta da cena;
porque estou cansada da minha rotina
porque quero experimentar coisas novas
porque assisti MISTERO BUFFO com o LA MÍNIMA e senti toda a energia que eu quero retornar a viver!

Mas o LA MÍNIMA é uma experiência e uma postagem a parte!
Viva!
Vamos que vamos!!!!

sábado, 27 de julho de 2013

Identidade

Identidade - mais uma vez!
De 2010 para cá, muitas coisas compõe esse blog, meu processo de construção do AMOSTRA GRÁTIS, o trabalho com meus alunos, festivais, cursos e agora o novo trabalho: 1, 2, 3 E CHÁ!
Mas o que mais me mobiliza e me toca é essa relação AMALGAMADA da figura da minha palhaça e de quem sou!
Isso é muito louco! É desafiador tentar entender o que é uma coisa e o que é outra!
Volto a perguntar - onde estão os limites?
Existe limites?

Novo mergulho

Na semana que passou conheci pessoalmente LILY CURSIO, palhaça que irá dirigir nosso novo trabalho (meu e da Odelta): "1, 2, 3 E CHÁ".
Foi um encontro incrível, por vários motivos, eu e a Odelta estávamos ansiosas para conhecê-la, a conversa foi maravilhosa e em pouco tempo ela mobilizou muitas coisas em mim!
É sobre essa mobilizada que quero falar.

MOBILIZADA nº 1

A conversa começou básica, informes e combinações, detalhes sobre o nosso trabalho, o que imaginamos e esperamos. Durante a conversa em dois momentos eu disse algo do tipo: "isso, eu não sei fazer! Isso eu tenho dificuldade e a Odelta é melhor!"
Não precisou a terceira vez e Lily amorosa e diretamente disse: "Vamos parar com essa conversa de eu não sei fazer!"
Sabe a sensação de levar um tapa, um balde de água fria?! Não pelo que foi dito (só por isso), porque a LILY foi realmente muito tranquila e amorosa, no tom e na maneira como disse.
Mas foi um portal, uma epifania para mim. Porque tinha fundamento (eu tava reclamona- ou eu sou reclamona?) e além de ter fundamento eu nunca tinha me percebido como alguém que acha que não pode fazer as coisas!
Num primeiro momento fiquei chocada, triste por me ver assim e por ter permitido que outras pessoas me vissem desse jeito!
A máscara social caiu, despencou! Que choque! Lembro de pensar "bom tái! Eu sou assim!"

MOBILIZADA nº 2

Durante a conversa a Lily disse que queria conhecer nossas palhaças, nossa habilidades, se tocávamos instrumentos e tudo mais. A Odelta toca um arsenal de instrumentos, cospe fogo, faz malabaris...
Eu tive um colapso de inveja e novamente não consegui esconder a minha cara de "como assim? O Que mais tu faz Odelta?"
Não só não escondi, como automaticamente essas palavras pularam da minha boca!
 "Como assim? O Que mais tu faz Odelta?"
Morri de vergonha de mim... mas o portal já tinha sido aberto. Não sei se a Lily tem consciência de como me mobilizou, lá no primeiro momento, mas foi como se ela tivesse "uma chave de mim" e simplesmente abriu uma porta!
Bom, assim que eu olhei com espanto e inveja (certa inveja) para a Odelta e soltei aquelas frases, um rio de risos invadiu a sala! Eu mesma ri de mim, da situação e do sentimento patético que me invadiu! Nesse momento fiquei feliz por simplesmente aceitar e revelar parte do que sou! Tá talvez não seja a melhor parte! Eu tenho partes bem mais bacanas!
Mas sim, eu assumo que, ouvir a Odelta e todas as suas destrezas, depois de ouvir a Lily dizer vamos mudar o discurso, me colocou de frente para um espelho. Vi coisas que não gostei, mas essas coisas não tão legais, também se transformaram diante de mim!
Se num primeiro momento eu fiquei chocada e envergonhada de mim, num segundo momento quando isso se tornou possibilidade de jogo, me tornei feliz!
Foi um rápido e bom caminho de reconhecimento.
Agora aguardo feliz e ansiosa para nosso primeiro e grande MERGULHO NA MÁSCARA DO PALHAÇO!
Quero sim me ver e crescer como gente e como PALHAÇA! Acho que esse novo momento vai me dar uma consciência maior da minha figura, da minha identidade e das minhas possibilidades de jogo.
Me vejo saindo da infância em direção a adolescência do meu trabalho na palhaçaria. Estoou feliz em crescer.
Mais uma vez obrigada ODELTA pela parceria e agora, obrigada LILY por aceitar caminhar do nosso lado neste momento!
OBRIGADA GURIAS!

Situações absurdas que foram se abrindo conforme eu assumia o jogo que tinha aparecido!

Lily - "Assistam aquela comediante Lucile..."
Odelta - "A do I LOVE LUCY"
Lily - "acho que sim"
Odelta - "Eu tenho os vídeos, o box inteiro!"
Lily - "Que legal!"
Odelta - "Vou te dar um de presente"
Ana - (olhando com cara de quem diz - como assim Odelta? Que ridículo!)
Ana - "que mais Odelta? Ahm?"
Risos

As três caminhando na estreita Rua da Praia, Odelta e Lily na frente e eu um passo atrás no meio das duas. Odelta passa a mão no braço da Lily e diz coisas lindas sobre como está feliz de tê-la conosco. Eu atrás só sacudo a cabeça, faço um "tsss"! Compartilho com as gurias a situação e o sentimento!!!! Risos!
Quanta estupidez!
Quanta carência Ana!!!!!




domingo, 7 de julho de 2013

A (há) lógica no palhaço

O trabalho de construção do meu espetáculo solo de palhaça, juntamente com as oficinas de palhaçaria no ensino médio na escola, me levam a uma série de reflexões e questionamentos. Dentre as muitas questões que surgem e as buscas por entendimento do meu processo, tem um caminho que me instiga muito: 
a lógica das ações cotidianas, a lógica das ações do ator e a lógica das ações do palhaço.

Então aí segue um esboço do que ando pensando a respeito!
Meus primeiros riscos em busca de um quadro explicativo para a constituição das ações do palhaço.

O pensamento formal é aquele que possibilita a compreensão de um objeto de conhecimento  (que pode ser uma ação, situação, objeto ou o próprio sujeito) a partir da análise de um quadro de múltiplas facetas, de muitas possibilidades.
Quando se trabalha com a arte do palhaço, as práticas que buscam a constituição desta figura e seu conjunto de ações físicas, visam primeiramente, colocar o sujeito diante de sua lógica de ações (como age e reage) em patamares de ação simbólicas ou pré-operatórias, em que ação não prevê ou considera a multiplicidade de possibilidades para determinada situação. O que acarreta reações equivocadas, distorcidas, as avessas, ingênuas, etc.. O ator,  com o pensamento formal constituído, abre espaço, a partir do trabalho com a arte do palhaço, para reconhecer e desenvolver suas ações físicas a partir de patamares de estruturação cognitivas que são anteriores ao pensamento formal e portanto, que não consideram o todo.
Cabe salientar que o ator/ palhaço não exclui o pensamento formal, que depois de constituído esta presente no pensamento-ação do ator, entretanto no processo do palhaço ele é colocado diante de desafios que buscam conectar com reações imediatas que não passam pela análise do pensamento formal, buscando conectar com aquelas estruturas primeiras para formar a lógica visível de ações e reações do palhaço. Essa lógica visível passa então a se conectar com o pensamento formal do ator, que analisa e faz escolhas para suas composições de cena. Uma estrutura cognitiva que agrega e entrelaça as descobertas.
Não se trata de um resgate de ações no nível pré-operatório ou simbólico, porque o pensamento formal já está constituído e atua sobre a ação. Trata-se da reconstrução da ação física (corpo e mente) do ator em outro patamar, em que o pensamento formal passa a ter a função de reconhecer as estruturas mais simples de ação e reação (e que diferem em cada sujeito) e busca tematizá-las num outro plano da constituição da lógica do palhaço e da construção da gag cômica.

Então o pensamento formal do palhaço, ou a lógica do palhaço englobaria a lógica de ação e reação visível e invisível, ou seja, o que se revela fisicamente e que aparentemente está baseado em estruturas operatórias e simbólicas e como o ator constrói, compreende, faz suas escolhas a partir do entendimento da totalidade de sua ação das estruturas do pensamento formal. essa é minha hipótese inicial. Mas há outro questionamento que surge a partir disso, primeiramente acreditava que a lógica do palhaço era maior que a lógica do ator, como três círculos, um dentro do outro. Mas revendo o processo talvez se trate de três circulos unidos como elos, com intersecções mas espaços independentes. ui...isso tudo faz sentido?
Não sei.... é o caminho do meu pensamento!
Agora tenho que ir atrás de mais material teórico sobre o processo de construção da figura do palhaço.

Acho que tudo isso se conecta a conversa que tive com o palhaço Rodrigo Robleño sobre o jogo do ator durante o processo de construção cênica e o jogo do palhaço na cena.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Novos desafios

Novos desafios, novas dúvidas mas sempre em torno da mesma temática: identidade!
Comecei um novo trabalho - 1, 2, 3 E CHÁ - com a parceria da minha amiga palhaça Odelta Simonette e que terá a direção de Lily Curcio uma big, master, blaster palhaça.
Quando eu conheci a Lily no PANTALHAÇO fiquei encantada com a figura dela e pensei, eu tenho que conhecer essa pessoa, eu tenho que trabalhar com ela! Projeto aprovado! Iniciamos o processo e estamos aguardando a chegada da Lily!
Enquanto isso na sala de justiça, eu e a Odelta começamos nosso trabalho.
Eu, particularmente, estava bem apreensiva porque há três anos o meu jogo é com um boneco, eu crio e defino minhas ações e reações diante de cada situação imaginada ou desenvolvida!
Agora as ações e reações são em função das ações e reações de outra pessoa, a escuta, a percepção do outro é fundamental.
Surpreendentemente eu e a Odelta (que nunca trabalhamos juntas), nos afinamos muito bem1
Entendemos a lógica da palhaçaria e conseguimos propor e nos ouvir.
Experimentamos um pequeno material e fomos pra rua. Fiquei perdida, controlando cada acontecimento, parecia muito diferente do meu estado em sala de trabalho.
Entrei em crise...
Reconheço que tudo que criamos tanto em sala como na rua foi importante e tem o seu valor, mas fiquei com uma sensação de estranhamento, que depois, pensando, matutando, acredito que tem relação com a identidade que ainda não é clara no jogo.O que pegou mesmo, para mim, é em relação a identidade de cada uma  na dupla. Ainda somos muito parecidas e as relações entre branco e augusto oscilam. Quando essas relações ficarem mais claras acredito que o jogo tende a crescer mais!

Gravamos todos nossos encontros - pelo menos uma parte!
Olho e re-olho, eu sou muito mandona mesmo!!! A cada momento eu tenho uma ideia para conduzir o jogo!!! Sempre achei que eu era extremamente augusta, mas tenho dúvidas agora...
A nova parceria abre um outro olhar sobre mim!
MARAVILHA!

Conversando com meu amigo e big palhaço Rodrigo Robleño ele disse algo importante: há diferenças na figura  durante o processo de criação (mais atoral) e no jogo de cena.
Sim isso faz sentido, durante o jogo muitas das minhas reações são características da figura do augusto, mas como estamos construindo cenas, ao mesmo tempo vou dando palpites e coordenando as situações (que segundo ele é uma lógica mais do ator do que do palhaço) - será que eu entendi certo?

Enfim, maneiras de pensar minha trajetória em busca da minha palhaça!

Pra quem quiser acompanhar nossa nova trajetória
www.123echa.blogspot.com.br


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Frase de impacto

Minha amiga Luciane Olendski um dia disse: "palhaço tem que ser potente"!
Concordo e completo a frase com o seguinte: o resto é marcação!

Palhaço tem que ser potente, o resto é marcação!

11º SESCFESTCLOWN




É sempre muito bom um encontro de palhaços.
E não foi diferente nessa participação no 11º SESCFESTCLOWN.
Me extasiei com o Biribinha e sua presença e segurança no palco!
Adorei conhecer o Clov's e sua figura excêntrica, ver como ele se movimenta tranquilamente entre a plateia.
Rever o O SAPATO DO MEU TIO, trouxe um suspiro na alma, principalmente com os números de extrema palhaçaria como o espelho.
La mínima também foi encantador e encerrou com chave de ouro.
Ver essa multiplicidade de acontecimentos, essa diversidade de abordagens e olhares, permite também ver o espaço do meu trabalho, a minha identidade e de que sim há espaço para o meu diferente!
Até agora não consegui me enquadrar dentro desse ou daquele modelo de palhaçaria, ora me identifico com alguma coisa, ora me identifico com outra... Talvez seja isso mesmo!

Para a apresentação eu só me lembrava da minha amiga Luciane Olendski, "o palhaço tem que ser potente". Me concentrei nisso! Queria uma apresentação potente, acho que consegui!
Podia ter aproveitado melhor os tempos...algum deles!!! Que fiquei na saudade da minha própria ação.
Outros momentos aproveitei tanto que descobri coisas novas! O ponto alto foi sem dúvida o banho de champagne que alcança cada vez mais detalhes e vigor! Dessa vez perdi a visão com o excesso de líquido e quando comecei a me atucanar, ouvi uma voz dizendo "aproveita" e então me diverti loucamente tentando resolver meu problema.

Adorei apresentar lá, pelo que experimentei e aprendi e, principalmente, pelos amigos e familiares queridos na plateia: meu primo Renato e sua esposa (eu não o via há pelo menos 15 anos), os novos amigos da caminhada Avner, Dennis, Trevo e Hiandria e o querido Pedro que desde o festival de Manuaus sempre lembra de mim!

Sou grata a toda produção, Rogero Torquato, Hugo, Simone e Agamenon que nos receberam com muito carinho e cuidado.
Sou grata a meus colegas de cena Pablo e Jua que sempre me acompanham e tornam tudo mais divertido e intenso!

AVNER reverberando

Aqui começo a descrever e analisar como a oficina com o AVNER EISEMBERG está reverberando no AMOSTRA GRÁTIS.
Primeira experiência no Cabaré do 3º Na ponta do Nariz.
Segunda experiência no 11º SESCFESTCLOWN - Festival Internacional de Brasilia.

Aproveitei o Cabaré para exercitar principalmente a respiração, que pra mim é bem clara e mais consciente nos momentos iniciais em que inspiro quando encosto no boneco e expiro quando me tomo de felicidade de poder vê-lo. Também percebo mais claramente a respiração quando tento beijá-lo e quando a cabeça cai. Em momentos mais controlados e calmos da ação eu consigo perceber e utilizar melhor a respiração do que naqueles mais frenéticos.

Para a apresentação do SESCFESTCLOWN, questionei muitos momentos, alguns consegui alterar, outros mantive como sempre faço, tive medo de comprometer o espetáculo com algo novo que eu não domino ainda. A questão da inspiração e expiração como algo consciente para construir elo com a plateia e para criar novas intenções para o movimento é impressionante. Tenho muito vivo na minha mente a cena inicial em que caio do puff rosa e saio lá de trás, inspiro, olho a plateia e expiro feliz e tranquila. Funcionou! Lembro bem das respirações quando leio a revista e recebo o boneco. Ainda é mais claro a respiração nos momentos mais controlados. Quando a ação e o movimento tem um tempo muito rápido ainda não consigo ter consciência dessa respiração e por consequência é difícil fazer modulações. Sei que o próprio movimento altera a respiração, mas quero experimentar a dinâmica contrária, controlando e modulando a respiração para ver como isso reverbera no trabalho. mas sei que isso é um processo a longo prazo!
Estou disposta a trabalhar sob esta perspectiva para qualificar o trabalho.

Experimentei as indicações de "recato" dadas pelo Avner, em relação ao beijo na boca do boneco. Fiz como ele indicou, beijando vagarosamente, mas primeiro utilizei a inspiração no momento em que me dei conta que tinha conseguido beijar na boca e a expiração no momento seguinte em que me sinto feliz pela conquista. fez efeito direto na plateia - incrível! Entretanto, todavia e contudo não deixei de lamber o nariz, porque gosto desse momento, é como se eu tivesse perdido o controle e de tanto prazer em beijar acabo lambendo o nariz. tenho consciência de que beira a estupidez, mas é uma escolha consciente.

Lembro bem quando ele disse algo mais ou menos assim: "Agora vocês podem analisar o conhecimento novo em relação ao que vocês já aprenderam, fazer experimentos e ver o que fica e o que se sustenta de fato. Vocês deverão fazer escolhas."

O novo realmente desequilibrou muitas das estruturas já enrijecidas do meu trabalho (que bom!!!), mas estou no movimento de fazer experimentos entre o novo e o velho e fazer as minhas escolhas!

Me sinto reaprendendo a andar, com a felicidade de poder vislumbrar novos caminhos, com medo do novo, mas me permitindo cair e experimentar novos passos. To feliz!

AVNER a revolução




Acabo de voltar de duas semanas intensas: curso do Avner e participação no 11º Sescfestclown.
O curso foi uma revolução!
Uma imersão na arte da palhaçaria e da humanidade!
Reaprendi a respirar!
A minha percepção é de que o AVNER tem uma consciência e uma compreensão do palhaço muito distinta da que eu conhecia até o momento, daquela que aprendi. Distinta e por vezes distante!
Não sei muito bem por onde começar o relato, então vou pontuar algumas coisas que ficaram:

1. "Essa triangulação é uma imbecilidade". Segundo ele compartilhamos com o público por três motivos: a gargalhada (então o palhaço olha e pensa consigo e com a plateia "eu sei"), quando o palhaço resolve o problema (então compartilha o sentimento de vitória, antes de descobrir o próximo problema) e quando é aplaudido (que se compartilha o sentimento de agradecimento).
Breve comentário: até então eu triangulava toda vez que eu descobria o problema.
Para ele quando se descobre o problema o palhaço deve focar na dificuldade (e pensar "interessante" e não olhar em volta ou para o público, porque pode parecer que se está pedindo o riso neste momento. Detalhe esse interessante é um sentimento de curiosidade, de desafio, não de fúria!

2. Respiração. Precisamos respirar e levar o público a respirar conosco!

3. O público precisa se sentir seguro com o palhaço, para isso é preciso ter cuidado com suas ações e objetos de cena, assim o público pensa "se ele trata assim seus objetos, também vai me tratar com cuidado!"
Ao respirar e principalmente expirar quando se vê de fato o público constrói a sensação de confiança e tranquilidade. O público percebe que é por causa dele, por causa da relação que se estabelece que o palhaço está feliz, o que provoca o riso e a felicidade na plateia também. Cumplicidade!

4. O palhaço não é estúpido, somente faz escolhas ingênuas e não óbvias.

5. Cuidar com ações repetitivas demais ou explicativas das ações.

6. movimento, história (imaginação), respiração. Qualquer um que se altera modifica o outro automaticamente.

Informo que tudo o que escrevi aqui é o que APRENDI não necessariamente o que ele tentou ENSINAR!!!! Não posso culpar o Avner pelos meus equívocos ou distorções!!! kkkkk
Foi incrível!!!! Ele é um lord, um cavalheiro! É delicioso ouvi-lo falar, explicar...

Então agora se iniciou o momento furacão: rever o meu trabalho sob essa perspectiva!
O que eu tenho de estupidez desnecessária?
O que é explicativo e precisa de outro tom?
Onde respirar? Em que momentos inspirar e expirar? Qual a dinâmica e tempo dessa respiração?
como trazer a plateia para o jogo e para a respiração e principalmente rever a triangulação.

Conscientemente, no plano do pensamento, já vislumbro novas possibilidades de transformação da cena, algumas já consegui colocar em prática, entretanto, muitas coisas que compreendo que devem ser modificadas, ainda não consegui alterar, porque no plano da ação material algumas ações, gestos, intensões e tempos estão tão cristalizados que levam tempo para serem tocadas e mobilizadas.

Fiz minha cena no Cabaré - chegada do boneco, volare, queda da cabeça. Avner elogio a movimentação poética com o boneco, mas alertou para os excessos como quando eu subo no pedestal e parece que estou "coxiando o pau do boneco" e quando eu beijo o boneco e acabo logo lambendo o nariz. Segundo o AVNER o recato é mais interessante!

Fico pensando que ele deve ter ficado espantado comigo, quando um dia anterior num exercício em que devíamos usar algo grudento eu optei por um absorvente que eu tiro de dentro das calcinhas...




Fotos Laiza Vasconcelos


domingo, 21 de abril de 2013

AVNER

Fui selecionada para a oficina do AVNER EISENBERG!
Só de pensar chego a me emocionar... Porque ele é uma referência em termos de trabalho de palhaço, porque as coisas que eu vi dele (no youtube é claro) sempre me fazem suspirar! Não rir enlouquecidamente mas me encantar...
Não sei o que esperar da oficina, minto...acho que vai ter MUITO trabalho físico
Não sei o que esperar de mim...
Ao mesmo tempo que me sinto como uma criança a espera de um presente, tenho medo de não corresponder as minhas expectativas. Que expectativas? De fazer algo interessante, de ser interessante! A última oficina que eu fiz me deixou muito insegura, me achei um blefe... Não quero sentir isso novamente!

Bobagem! Larguei mão disso!!!
Meu propósito é SENTIR
Quero me conectar comigo ao extremo, quero INTEIREZA total e se possível em todos os momentos!
Quero SENTIR, conectar comigo, com o que eu tenho de mais profundo e encontrar o botão que permite eu conectar sempre que quiser!
Quero que toda vez que eu entre em cena seja um sentimento tão grande e intenso que eu me encha de luz e de vida!
Tá, o papo ficou cabeça, ficou etéreo...mas é isso que eu quero!
Quero acionar o botão da INTEIREZA toda vez que eu entrar em cena, quero que as pessoas sintam essa intensidade, mas quero vivê-la com tudo!
Bom, então já tenho expectativas bem claras - eu disse que menti!!!!

http://www.napontadonariz.com/p/curso-intensivo.html

http://www.avnertheeccentric.com/eccentric_principles.php

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Milhares de coisas

Gente o ano começou bombando
1. Fui convidada para encerrar o 5 Festival de Cenas Breves em Manaus - sim fui para a Amazônia mais uma vez apresentar minha cena curta naquele teatro maravilhoso!
2. Fui selecionada para a oficina do AVNER EISEMBERG (EUA), estou radiante!
3. Fui selecionada para meu primeiro festival internacional de palhaços o FESTCLOWN - estou emocionada! com medo mas feliz!

Enfim tenho muitas coisas para contar...mas estou sem tempo!!!

Espelho, espelho meu

Espelho, espelho meu ou mais um reflexão sobre o trabalho com a Lia!!!!
Durante todo o processo de criação da Lia, que resultou no espetáculo HISTÓRIAS DO ERMO DO OLHO, o trabalho dela me fazia olhar e questionar sobre o meu trabalho.
Qual de fato é a lógica da minha palhaça?
Como assumir meu exagero e fúria e como incorporar a sutileza e a delicadeza?
Quais os desencadeamentos necessários para as ações de cena?
Quanto mais em olhava para o trabalho da Lia, mais eu refletia sobre o meu e quanto mais eu refletia sobre o meu mais conseguia colaborar com o processo dela!
Ufis!!!!

Ah! Preciso dizer que um grande barato sobre o espetáculo é dela é justamente a palavra que ora se torna pura palhaçaria (porque o poeta tem um ermo no olho e enxerga as coisas distorcidas, quase como um palhaço) como o poema em que "Os pássaros cacaram. Cacaram nos postes, nas ruas..."
Ora o jogo do palhaço justifica o poema como no momento em que o poeta conta aos seus pais que não queria ser doutor!




Um exercício de generosidade

O ano de 2012 foi fantástico, por muitas razões mas uma em especial me acalenta a alma: o encontro com três palhaços incríveis Lia Motta, Marcos Rangel e Genifer Gehard. Um grupo que se formou para estudar e desenvolver a arte do palhaço O QUARTETO FALHAÇO.
Fizemos alguns encontros e piramos na construção de um projeto (que ainda será executado)!
No início de 2013 o grupo não conseguiu se reunir por uma série de trabalhos do Marcos e da Genifer e foi a hora de eu e LIA nos aproximarmos...
Confesso que a Lia sempre me assustou, ou assustava! É uma mulher forte, apesar do corpo pequeno, cheia de opiniões e, principalmente, cheia de experiências no circo, o que sempre me fez respeitar muito as opiniões dela. E mais, Lia não esconde o que pensa e eu, sempre morri de medo dela revelar aquilo que eu escondo!!! hahahahahahahah
A Lia estava num momento que eu já tinha vivido, ela queria muito mergulhar no seu projeto solo de palhaça então ela me convidou e eu me ofereci (isso ao mesmo tempo) para ajudar - porque sei muito bem como é ter que se fechar sozinha numa sala e tentar olhar para si! Uma ajuda sempre vem bem!!!
Combinamos um intensivo em fevereiro nas minhas férias.
Fui vazia, não sabia o que esperar e como começar todo processo. Acho que nem ela! Mas fomos extremamente abertas e nos descobrimos GRANDES AMIGAS E PARCEIRAS DE TRABALHO! Hoje continuo vendo a Lia como uma mulher forte, cheia de opiniões , mas vejo também uma mulher afetuosa, sutil, delicada, disponível, generosa e as suas opiniões que um dia me davam medo agora alimentam meu trabalho e minha vida! Então antes de começar a contar sobre o nosso trabalho aí vai um MUITO OBRIGADA por compartilhar tuas histórias do ermo do olho comigo! 
A Lia já tinha uma proposta clara trabalhar a poesia de Manoel de Barros a partir da arte do palhaço. Eu sempre fui muito resistente a palavra (porque de fato não sei trabalhar muito com ela), mas esse era o trabalho da Lia e eu precisava respeitar os seus "quereres" antes de tudo. Já adianto que a Lia me ensinou a amar a palavra (mais um MUITO OBRIGADA LIA).
Todo o trabalho foi um exercício de generosidade e aceitação, tanto meu quanto dela, do que éramos, do que somos. Foi um acolhimento irrestrito de nossas diferenças e de aceitação de todo e qualquer material que foi sendo criado, sem julgamentos. Não havia a crítica só acolhimento! Esse processo permitiu que nossas diferenças se tornassem nossas grandes aliadas, onde tinha carência de delicadeza e ternura tinha quem oferecia, quando faltava fúria e excesso tinha outra que nutria. E pasmem a fúria e o excesso era do meu lado em contraposição a delicadeza e sutileza da Lia que sempre encontrava a sua maneira de fazer as ações e gags cômicas que eu propunha com determinado exagero. Por exemplo para a cena de "A CORDA"  eu propus que ela passasse dançando por baixo da corda, virasse e desse de pescoço , essas ações característica de um jogo mais escancarado da minha palhaça não condizia com a lógica de ações da palhaça da Lia, então na exploração do objeto e das possibilidades de ação descobriu-se a trapezista! O trabalho então se fez no exercício da generosidade! Mas também por um conhecimento sobre a história e arte do palhaço porque nos apoiamos muito em diferentes gags e números tradicionais, nos apropriando das estruturas cômicas e adaptando ao contexto do trabalho.
O mais louco de todo esse processo é que tudo fluiu naturalmente, as propostas para trabalhar cada cena nasciam naturalmente da nossa interação e experiência. Trazíamos as ideias, trabalhávamos cada parte(os exercícios para desenvolver cada parte parecem que surgiam como uma benção PIM mas é obvio que nasciam de um repertório individual de anos de trabalho) e tudo ACONTECEU sem dor, sem problemas. Bom, no finzinho  a Lia teve uma crise de insegurança, mas foi superada!!!! Ela já fez inúmeras apresentações, e parece que tem sido muito FELIZ!!!! Ainda não conseguimos sentar para trocar figurinhas e falar da vida, de sonhos e novos projetos - o que fazíamos sempre ao final de cada ensaio!!!
Mas essa semana mataremos a saudade! Eu acho! Então mais uma vez OBRIGADA LIA MOTTA por compartilhar esse momento e me possibilitar o exercício da generosidade que só me fez crescer!
Ah! Parabéns pelo lindo  trabalho - tenho orgulho!!!!






domingo, 24 de fevereiro de 2013

Coisas cósmicas...


Fui convidada para a !ª Mostra de Monólogos em Caxias do Sul, que ocorreu em fevereiro deste ano (2013)! Fui felicíssima porque adoro apresentar em Caxias (o público sempre é muito carinhoso) e porque é sempre mais uma chance de exercitar e viver a minha palhaça!
Quando cheguei lá, concomitante a Mostra estava ocorrendo uma oficina com Ana Woolf, da Argentina, que participa do grupo Pontedera (ligado ao eugênio Barba). No grupo de oficinandos, além dos muitos amigos queridos; Odelta, Tanaã, Tefa, Márcio, Beto Ribeiro e Tina estava presente Vera Lúcia Ribeiro - palhaça integrante do primeiro grupo de palhaças do Brasil, as Marias da Graça.
Nos encontramos todos por acaso na noite anterior ao espetáculo em um restaurante em Caxias do Sul. Odelta me apresentou para a Vera e pude convidá-la para o espetáculo.
Louco né?
E mais, um grupo grande da oficina já tinha se combinado para assistir o AMOSTRA GRÁTIS no outro dia!
Qual a probabilidade de ter a chance de compartilhar meu espetáculo com essas pessoas, figuras importantes do mundo teatral e da arte da palhaçaria e que até o momento só faziam parte da minha imaginação?! E em Caxias do Sul?!!!
Mundo pequeno esse... ou caminhos escritos?
Não sei...
Só sei que foi muito bacana e uma linda e grande oportunidade de divulgar meu trabalho. Quem sabe algumas portas ou janelas se abram neste novo ano que se inicia!

O PRIMEIRO MERGULHO

Fiz o primeiro mergulho na cena!

Foi incrível, maravilhoso, me senti inteira!
Errei o primeiro movimento, na primeira cena em que acordo do sonho fiz um movimento muito forte e o sofá veio por cima de mim. O que talvez em algum momento fosse motivo para pensar - puts errei no início -  se transformou no meu primeiro - ha olha só já me fudi hahahahahahaha agora sou um tartaruga! Brinquei com a situação e segui o baile segura e feliz!!!!!
O foco era reconectar com meus sentimentos e isso foi acontecendo naturalmente porque me permiti um tempo maior para tudo, um tempo de explorar os porquês que antecediam cada situação.
Porque eu deveria sentar ao lado do boneco?
Porque ele me chamou, então fazia uma menção a uma pequena conversa ou cochicho entre namorados.
Porque eu faria um strip-tease?
Porque ele não quis me beijar, talvez ainda estivesse com mau-hálito.
Porque eu tomo um banho de champagne... porquês, porquês, porquês....
Lembro do Ricardo Puccetti falando sobre a dramaturgia do palhaço, da ação. Cada ação tem uma lógica para o palhaço e que deve ser explícitada para o público também!

Não sei se o SENTIR me deu TEMPO ou o TEMPO me levou a SENTIR. Talvez seja uma via de mão dupla, a partir do momento em que eu me permito explorar um ou outro eles se desenvolvem - independente da escolha! Redescobri o SENTIR, fiz as pazes com o TEMPO!

É preciso enfatizar a importância do ensaio a tarde, tenho consciência dessa minha dificuldade, percebo isso na cena, vejo nos vídeos e diferentes pessoas já me apontaram - "aproveita mais, curte Ana! tem muito material que não pode se desperdiçar!"
Fui para o ensaio buscando isso e durante essa busca encontrei muitos porquês. Apesar de ter ficado frustrada com o ensaio em termos de energia e conexão com o sentir, ele foi fundamental para eu descobrir ações que acionavam as justificativas (para não repetir porque) os desencadeamentos de cada situação cênica.
No momento do espetáculo esse novo material me deu mais sustentação e calma, para aproveitar e curtir! me sento conectada comigo, com a cena e com o público.
Saí de alma lavada!
"2013 pode vir quente porque eu to fervendo!!!!"

Sei que tenho muito a aprender mas estou aberta e percebi que é possível!

QUE VENHA 2013!

Abrindo os trabalhos!!!!


Começo 2013 com pé direito!
Fui convidada pela queridíssima Zica Stockmans e pelo Sandro para compor a 1ª mostra de monólogos de Caxias do Sul.
O espaço é incrível, charmoso, acolhedor (tem lareira gente!) e com uma equipe maravilhosa!
O primeiro desafio foi a oficina "Em estado de graça" - de encher a alma da gente! Dezoito pessoas das mais variadas idades e experiências, completamente entregues, com olhos vibrantes e o desejo de aprender! Eu aprendi muito com eles o bacana é que dar aula aguça a percepção da gente! Coloca o olho para fora, no outro e automaticamente para dentro  - como eu compreendo esse outro e como posso ser de fato um instrumento importante para aquele momento dele.
No outro dia a apresentação... Aqui cabe um relato mais detalhado...
Desde novembro de 2012, última temporada em Porto Alegre eu não ensaiava mais o Amostra e isso é sempre um risco, então apesar de trabalhar constantemente com a arte do palhaço (aulas, encontros com outros palhaços, leituras, etc) eu não tinha repassado a estrutura do espetáculo, seus detalhes ou estados energéticos. Entretanto, todavia e contudo sempre reservo o dia do espetáculo para me dedicar inteiramente a ele com ensaios diretos do todo e de pequenas partes -  e foi o que eu fiz!
Pela manhã fui para o teatro, sol mansinho, vento no rosto e o relógio termômetro me dizendo BOM DIA!!!!
Comecei a arrumar o cenário e descubro que uma das poltronas (a reserva - graças a Deus) estava completamente mofada. Resolvo ir ao super mercado comprar outra só de sobre-aviso! deixo tudo montado no teatro e vou comprar as coisas que faltam. No início da tarde começo todo o processo: afinação de luz, ensaios, ensaios, ensaios... Tava exausta e insatisfeita com os ensaios. Tudo sem vida, sem energia, sem conexão de sentimento... comecei a ficar muito preocupada. Eu sempre fico! Fiquei pensando - acho que sou um blefe e as pessoas vão descobrir!!!!!!!
Tenho um problema muito grande com o TEMPO, que acompanha o blog já deve ter visto em diferentes postagens. Com medo de esquecer a sequencia de acontecimentos, tenho a tendência de passar de uma ação a outra sem de fato curtir e explorar todas suas nuances e possibilidades! Sem viver intensamente o momento e por consequencia sem me conectar sentimentalmente as ações. Fica tudo cristalizado, mecânico.
Meu objetivo, então, para essa apresentação era conectar "comigo mesma". Era SENTIR!
Me divertir, me apaixonar, me envolver.
Hora do espetáculo. Casa lotada. Amigos queridos, alunos, pessoas importantes da área teatral e da arte da palhaçaria... enfim... meu estômago estava repleto de borboletas que se  debatiam.
Rezei!
Pedi, à Deus, aos anjos, ao Cósmos, às forças que regem esse louca vida, que eu de fato pudesse compartilhar o meu trabalho com generosidade e amor, livre do meu exibicionismo ou do meu ego (já disse que sou bem piegas né).
Fechei o nariz e MERGULHEI...

cenas dos próximos capítulos
errei o primeiro movimento..
tomei banho de champagne
redescobri o SENTIR
fiz as pazes com o TEMPO