Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

sábado, 27 de julho de 2013

Identidade

Identidade - mais uma vez!
De 2010 para cá, muitas coisas compõe esse blog, meu processo de construção do AMOSTRA GRÁTIS, o trabalho com meus alunos, festivais, cursos e agora o novo trabalho: 1, 2, 3 E CHÁ!
Mas o que mais me mobiliza e me toca é essa relação AMALGAMADA da figura da minha palhaça e de quem sou!
Isso é muito louco! É desafiador tentar entender o que é uma coisa e o que é outra!
Volto a perguntar - onde estão os limites?
Existe limites?

Novo mergulho

Na semana que passou conheci pessoalmente LILY CURSIO, palhaça que irá dirigir nosso novo trabalho (meu e da Odelta): "1, 2, 3 E CHÁ".
Foi um encontro incrível, por vários motivos, eu e a Odelta estávamos ansiosas para conhecê-la, a conversa foi maravilhosa e em pouco tempo ela mobilizou muitas coisas em mim!
É sobre essa mobilizada que quero falar.

MOBILIZADA nº 1

A conversa começou básica, informes e combinações, detalhes sobre o nosso trabalho, o que imaginamos e esperamos. Durante a conversa em dois momentos eu disse algo do tipo: "isso, eu não sei fazer! Isso eu tenho dificuldade e a Odelta é melhor!"
Não precisou a terceira vez e Lily amorosa e diretamente disse: "Vamos parar com essa conversa de eu não sei fazer!"
Sabe a sensação de levar um tapa, um balde de água fria?! Não pelo que foi dito (só por isso), porque a LILY foi realmente muito tranquila e amorosa, no tom e na maneira como disse.
Mas foi um portal, uma epifania para mim. Porque tinha fundamento (eu tava reclamona- ou eu sou reclamona?) e além de ter fundamento eu nunca tinha me percebido como alguém que acha que não pode fazer as coisas!
Num primeiro momento fiquei chocada, triste por me ver assim e por ter permitido que outras pessoas me vissem desse jeito!
A máscara social caiu, despencou! Que choque! Lembro de pensar "bom tái! Eu sou assim!"

MOBILIZADA nº 2

Durante a conversa a Lily disse que queria conhecer nossas palhaças, nossa habilidades, se tocávamos instrumentos e tudo mais. A Odelta toca um arsenal de instrumentos, cospe fogo, faz malabaris...
Eu tive um colapso de inveja e novamente não consegui esconder a minha cara de "como assim? O Que mais tu faz Odelta?"
Não só não escondi, como automaticamente essas palavras pularam da minha boca!
 "Como assim? O Que mais tu faz Odelta?"
Morri de vergonha de mim... mas o portal já tinha sido aberto. Não sei se a Lily tem consciência de como me mobilizou, lá no primeiro momento, mas foi como se ela tivesse "uma chave de mim" e simplesmente abriu uma porta!
Bom, assim que eu olhei com espanto e inveja (certa inveja) para a Odelta e soltei aquelas frases, um rio de risos invadiu a sala! Eu mesma ri de mim, da situação e do sentimento patético que me invadiu! Nesse momento fiquei feliz por simplesmente aceitar e revelar parte do que sou! Tá talvez não seja a melhor parte! Eu tenho partes bem mais bacanas!
Mas sim, eu assumo que, ouvir a Odelta e todas as suas destrezas, depois de ouvir a Lily dizer vamos mudar o discurso, me colocou de frente para um espelho. Vi coisas que não gostei, mas essas coisas não tão legais, também se transformaram diante de mim!
Se num primeiro momento eu fiquei chocada e envergonhada de mim, num segundo momento quando isso se tornou possibilidade de jogo, me tornei feliz!
Foi um rápido e bom caminho de reconhecimento.
Agora aguardo feliz e ansiosa para nosso primeiro e grande MERGULHO NA MÁSCARA DO PALHAÇO!
Quero sim me ver e crescer como gente e como PALHAÇA! Acho que esse novo momento vai me dar uma consciência maior da minha figura, da minha identidade e das minhas possibilidades de jogo.
Me vejo saindo da infância em direção a adolescência do meu trabalho na palhaçaria. Estoou feliz em crescer.
Mais uma vez obrigada ODELTA pela parceria e agora, obrigada LILY por aceitar caminhar do nosso lado neste momento!
OBRIGADA GURIAS!

Situações absurdas que foram se abrindo conforme eu assumia o jogo que tinha aparecido!

Lily - "Assistam aquela comediante Lucile..."
Odelta - "A do I LOVE LUCY"
Lily - "acho que sim"
Odelta - "Eu tenho os vídeos, o box inteiro!"
Lily - "Que legal!"
Odelta - "Vou te dar um de presente"
Ana - (olhando com cara de quem diz - como assim Odelta? Que ridículo!)
Ana - "que mais Odelta? Ahm?"
Risos

As três caminhando na estreita Rua da Praia, Odelta e Lily na frente e eu um passo atrás no meio das duas. Odelta passa a mão no braço da Lily e diz coisas lindas sobre como está feliz de tê-la conosco. Eu atrás só sacudo a cabeça, faço um "tsss"! Compartilho com as gurias a situação e o sentimento!!!! Risos!
Quanta estupidez!
Quanta carência Ana!!!!!




domingo, 7 de julho de 2013

A (há) lógica no palhaço

O trabalho de construção do meu espetáculo solo de palhaça, juntamente com as oficinas de palhaçaria no ensino médio na escola, me levam a uma série de reflexões e questionamentos. Dentre as muitas questões que surgem e as buscas por entendimento do meu processo, tem um caminho que me instiga muito: 
a lógica das ações cotidianas, a lógica das ações do ator e a lógica das ações do palhaço.

Então aí segue um esboço do que ando pensando a respeito!
Meus primeiros riscos em busca de um quadro explicativo para a constituição das ações do palhaço.

O pensamento formal é aquele que possibilita a compreensão de um objeto de conhecimento  (que pode ser uma ação, situação, objeto ou o próprio sujeito) a partir da análise de um quadro de múltiplas facetas, de muitas possibilidades.
Quando se trabalha com a arte do palhaço, as práticas que buscam a constituição desta figura e seu conjunto de ações físicas, visam primeiramente, colocar o sujeito diante de sua lógica de ações (como age e reage) em patamares de ação simbólicas ou pré-operatórias, em que ação não prevê ou considera a multiplicidade de possibilidades para determinada situação. O que acarreta reações equivocadas, distorcidas, as avessas, ingênuas, etc.. O ator,  com o pensamento formal constituído, abre espaço, a partir do trabalho com a arte do palhaço, para reconhecer e desenvolver suas ações físicas a partir de patamares de estruturação cognitivas que são anteriores ao pensamento formal e portanto, que não consideram o todo.
Cabe salientar que o ator/ palhaço não exclui o pensamento formal, que depois de constituído esta presente no pensamento-ação do ator, entretanto no processo do palhaço ele é colocado diante de desafios que buscam conectar com reações imediatas que não passam pela análise do pensamento formal, buscando conectar com aquelas estruturas primeiras para formar a lógica visível de ações e reações do palhaço. Essa lógica visível passa então a se conectar com o pensamento formal do ator, que analisa e faz escolhas para suas composições de cena. Uma estrutura cognitiva que agrega e entrelaça as descobertas.
Não se trata de um resgate de ações no nível pré-operatório ou simbólico, porque o pensamento formal já está constituído e atua sobre a ação. Trata-se da reconstrução da ação física (corpo e mente) do ator em outro patamar, em que o pensamento formal passa a ter a função de reconhecer as estruturas mais simples de ação e reação (e que diferem em cada sujeito) e busca tematizá-las num outro plano da constituição da lógica do palhaço e da construção da gag cômica.

Então o pensamento formal do palhaço, ou a lógica do palhaço englobaria a lógica de ação e reação visível e invisível, ou seja, o que se revela fisicamente e que aparentemente está baseado em estruturas operatórias e simbólicas e como o ator constrói, compreende, faz suas escolhas a partir do entendimento da totalidade de sua ação das estruturas do pensamento formal. essa é minha hipótese inicial. Mas há outro questionamento que surge a partir disso, primeiramente acreditava que a lógica do palhaço era maior que a lógica do ator, como três círculos, um dentro do outro. Mas revendo o processo talvez se trate de três circulos unidos como elos, com intersecções mas espaços independentes. ui...isso tudo faz sentido?
Não sei.... é o caminho do meu pensamento!
Agora tenho que ir atrás de mais material teórico sobre o processo de construção da figura do palhaço.

Acho que tudo isso se conecta a conversa que tive com o palhaço Rodrigo Robleño sobre o jogo do ator durante o processo de construção cênica e o jogo do palhaço na cena.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Novos desafios

Novos desafios, novas dúvidas mas sempre em torno da mesma temática: identidade!
Comecei um novo trabalho - 1, 2, 3 E CHÁ - com a parceria da minha amiga palhaça Odelta Simonette e que terá a direção de Lily Curcio uma big, master, blaster palhaça.
Quando eu conheci a Lily no PANTALHAÇO fiquei encantada com a figura dela e pensei, eu tenho que conhecer essa pessoa, eu tenho que trabalhar com ela! Projeto aprovado! Iniciamos o processo e estamos aguardando a chegada da Lily!
Enquanto isso na sala de justiça, eu e a Odelta começamos nosso trabalho.
Eu, particularmente, estava bem apreensiva porque há três anos o meu jogo é com um boneco, eu crio e defino minhas ações e reações diante de cada situação imaginada ou desenvolvida!
Agora as ações e reações são em função das ações e reações de outra pessoa, a escuta, a percepção do outro é fundamental.
Surpreendentemente eu e a Odelta (que nunca trabalhamos juntas), nos afinamos muito bem1
Entendemos a lógica da palhaçaria e conseguimos propor e nos ouvir.
Experimentamos um pequeno material e fomos pra rua. Fiquei perdida, controlando cada acontecimento, parecia muito diferente do meu estado em sala de trabalho.
Entrei em crise...
Reconheço que tudo que criamos tanto em sala como na rua foi importante e tem o seu valor, mas fiquei com uma sensação de estranhamento, que depois, pensando, matutando, acredito que tem relação com a identidade que ainda não é clara no jogo.O que pegou mesmo, para mim, é em relação a identidade de cada uma  na dupla. Ainda somos muito parecidas e as relações entre branco e augusto oscilam. Quando essas relações ficarem mais claras acredito que o jogo tende a crescer mais!

Gravamos todos nossos encontros - pelo menos uma parte!
Olho e re-olho, eu sou muito mandona mesmo!!! A cada momento eu tenho uma ideia para conduzir o jogo!!! Sempre achei que eu era extremamente augusta, mas tenho dúvidas agora...
A nova parceria abre um outro olhar sobre mim!
MARAVILHA!

Conversando com meu amigo e big palhaço Rodrigo Robleño ele disse algo importante: há diferenças na figura  durante o processo de criação (mais atoral) e no jogo de cena.
Sim isso faz sentido, durante o jogo muitas das minhas reações são características da figura do augusto, mas como estamos construindo cenas, ao mesmo tempo vou dando palpites e coordenando as situações (que segundo ele é uma lógica mais do ator do que do palhaço) - será que eu entendi certo?

Enfim, maneiras de pensar minha trajetória em busca da minha palhaça!

Pra quem quiser acompanhar nossa nova trajetória
www.123echa.blogspot.com.br