Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

A origem

Neste espaço deixarei alguns registros importantes, que possibilitam entender a origem de todo o trabalho!


O espetáculo
Tenho um amigo maravilhoso...
Na verdade tenho vários que me acompanham, mas este em especial foi  aquele que abriu espaço para meu processo tornar-se espetáculo - Pablo Damiam, Pablito como eu chamo!
O Pablo tinha um espetáculo e três datas num teatro. Por razões cósmicas, daquelas que não se explicam ele não poderia apresentar seu trabalho e me ofereceu as datas para eu experimentar o meu material com público.
Aceitei!!!!!
Era o momento de dar um acabamento para todas as experimentações!
Fui para a cena, com todas as inquietações, dificuldades e surpresas!!!!
É possível acompanhar tudo nos primeiros registros do blog!

Crise existencial ou, o caminho para a decisão - quero ser uma palhaça!

Aos 30 anos entrei numa crise séria, eu tinha escrito um livro, tido um filho e plantado uma árvore.
E agora José? 
O que fazer?
O que desejar?
Com o que sonhar?
Os dias foram passando e a vida seguindo, eu tinha um filho para cuidar, uma árvore para regar e um livro para ler!!!!!! A crise não se ia... Eu tinha um vazio dentro de mim.
Tempos depois (muito tempo depois), estress, cansaço, excesso de trabalho, preocupações, crise conjugal, parei tudo para fazer um curso de palhaço com o Ricardo Puccetti ... EPIFANIA TOTAL
Decidi que assumiria de vez meu desejo de ser palhaça. Desejo esse escondido por muito tempo, por medo, confusão, estupidez ou simplesmente falta de coragem de encarar a responsabilidade de uma decisão como esta, que requer muito investimento de tempo, energia e emoção.
Aqui cabe um pequeno parênteses, fui apresentada a figura e ao trabalho com o clown em 1997 com o professor e ator Roberto Birindelli e em 2000 fiz minha iniciação com a professora palhaça Ana Elvira Wuo. Desde esses tempos trabalhava sistematicamente com a linguagem clownesca, fazendo intervenções e cursos. Entretanto, todavia e contudo, eu tinha na minha mente que precisava ir ao exterior estudar com um grande mestre para então ter o aval, ter a autorização para trabalhar e me intitular PALHAÇA.
Na minha atual condição de vida não poderei ir tão cedo ao exterior, estudar com um grande mestre (mas irei assim que der, porque tenho consciência de como posso aprender com isso!).
Aqui no Brasil tem grandes mestres palhaços, eu tive contato com um, que me abriu os olhos e a vontade de tabalhar!
Resolvi então simplesmente baixar a cabeça e trabalhar e deixar que o trabalho então constituísse o que sou como palhaça...
Trabalho vai, trabalho vem eu seguia sozinha na minha sala com meu parceiro de cena - o Ricardo (boneco). Eu havia descoberto movimentos e ações com ele...
Mas o que eu tinha para dizer com tudo isso? O que eu tinha para compartilhar que vale-se uma apresentação, que vale-se fazer e ir ao teatro?
Um dia, conversando com uma amiga sobre problemas conjugais eu disse - "Por isso amiga eu comprei meu homem!" - me referindo ao boneco.
Quando eu disse isso para que o roteiro do espetáculo se desenrolou na minha frente!
Sim, eu falaria sobre a dificuldade de se relacionar amorosamente, de como projetamos e arruinamos nossas relações. A história de um palhaça sozinha que compra um companheiro, vive seus sonhos e, sem querer, o mata sufocado de beijos.
O roteiro foi montado com base na idéia central (de quem compra um companheiro) junto com as ações e movimentos já descobertos no processo de trabalho desenvolvido até então.
Voltei para sala de trabalho e passei a experimentar cada parte do roteiro. Assim nasceu o AMOSTRA GRÁTIS!

Segue meu primeiro registro do blog, em que relato o início do processo!

Primeiro registro do blog

Meu querido diário...
Hahahaha – não resisti a piada inicial!
Enfim, começo agora a registrar minha busca por autonomia na minha criação artística. Autonomia essa que busco a tempo, escrevendo projetos, textos, dirigindo espetáculos, correndo atrás da máquina. Mas o que busco agora é uma autonomia solitária, fechada numa sala, atrás de tudo o que tenho e tudo o que desejo.
Atrás de mim!
Mas antes de começar a descrever meu primeiro encontro comigo é preciso contar um pouco sobre o PORTAL  que eu passei, ou do que eu também chamo de A ILHA DA FANTASIA!!!!
Há mais ou menos um mês fiz um curso de palhaço com Ricardo Puccetti do LUME. Algo que eu almejava quando recém tinha chegado em Porto Alegre e entrado em contato com o mundo do clown. Mas que parecia bastante distante da minha vida e das minhas escolhas – principalmente as atuais.
Mas por essas coisas cósmicas, apareceu o curso e eu pude fazer.
Lembro de chegar de ônibus em Londrina, depois de 15 horas de viagem (exausta, ando trabalhando demais) e me perguntar o que eu estava fazendo ali e só consegui pensar – tu pediu isso Ana, tu merece!
Lá fui eu!
A semana foi incrível com trabalhos intensos em busca das particularidades de cada um, do engraçado, do ridículo, do humano. O grupo era maravilhoso capaz de “quebrar postes” por onde passava. Aproveitei para aprender tudo o que podia.
Em determinado momento precisávamos de um objeto para o trabalho. O que levar? Minha bolsinha de sempre? As meias? Cheguei a pensar na bolsinha cheia de absorventes...um tanto escatológico...
Em uma conversa num café no final de tarde brinquei com a possibilidade de usar uma mega bolsa chique que estava pendurada em uma loja. O professor sem pestanejar disse: A bolsa não é boa, mas o manequim...
Pronto eu tinha achado o objeto!
Não que eu tenha conseguido o objeto naquele exato momento!!! Precisei bater perna pela cidade. Queria um manequim masculino, de preferência com braços articulados. Mas não encontrei. Devo ter passado por umas 40 lojas. Acabei comprando um busto de costureira com pedestal e uma cabeça de homem que colei com muita fita crepe!
Eis que nasce meu mais novo companheiro de cena! E não é que a enjambração deu mais certo do que o esperado! O boneco gira conforme eu toco. Posso beijar, abraças, dançar...
Na saída de campo para a praça foi um sucesso. É impressionante como o boneco contata com o público. Fiquei com um pouco de ciúmes. Por vezes pareceu jogo baixo.
Um dia tirei para ser  mulher-chiclé, me grudei no professor para conversar sobre o trabalho, minhas idéias e tudo o que estava acontecendo na oficina - queria poder conversar a sós com o “todo poderoso”...
VALEU!
Milhares de sugestões e comentários a respeito do trabalho – colocar rodinhas no boneco e uma coleirinha para puxar! Começar colocando ele próximo de uma loja, fazer algumas intervenções e de repente se apaixonar por aquele ser.
Comentei com  o professor sobre minha impressão do jogo baixo - ele concordou! Ui!!! Mas sugeriu: de vez enquando entrega o boneco para alguém segurar, faz algo e volta!
MARA!
Bom, quando acabou a oficina chorei como uma PORCA! Era muito mais que o fim de um trabalho, era o retorno para um mundo real, era o fim daquela ILHA DA FANTASIA.
Voltei para POA, literalmente embriagada! Agarrada no boneco e decidida -  eu transformaria aquela experiência num PORTAL, no início de um novo tempo para mim. Eu daria um jeito de trabalhar sozinha todas aquelas coisas que havia passado pela oficina.

Somente eu e o boneco, carinhosamente batizado de:
Ricardo!

Esses são os únicos registros que tenho da oficina. carinhosamente cedidos pelo colega André.

Assim que tiver alguma imagem do meu mais novo companheiro de cena, colocarei aqui!