Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Frase de impacto

Minha amiga Luciane Olendski um dia disse: "palhaço tem que ser potente"!
Concordo e completo a frase com o seguinte: o resto é marcação!

Palhaço tem que ser potente, o resto é marcação!

11º SESCFESTCLOWN




É sempre muito bom um encontro de palhaços.
E não foi diferente nessa participação no 11º SESCFESTCLOWN.
Me extasiei com o Biribinha e sua presença e segurança no palco!
Adorei conhecer o Clov's e sua figura excêntrica, ver como ele se movimenta tranquilamente entre a plateia.
Rever o O SAPATO DO MEU TIO, trouxe um suspiro na alma, principalmente com os números de extrema palhaçaria como o espelho.
La mínima também foi encantador e encerrou com chave de ouro.
Ver essa multiplicidade de acontecimentos, essa diversidade de abordagens e olhares, permite também ver o espaço do meu trabalho, a minha identidade e de que sim há espaço para o meu diferente!
Até agora não consegui me enquadrar dentro desse ou daquele modelo de palhaçaria, ora me identifico com alguma coisa, ora me identifico com outra... Talvez seja isso mesmo!

Para a apresentação eu só me lembrava da minha amiga Luciane Olendski, "o palhaço tem que ser potente". Me concentrei nisso! Queria uma apresentação potente, acho que consegui!
Podia ter aproveitado melhor os tempos...algum deles!!! Que fiquei na saudade da minha própria ação.
Outros momentos aproveitei tanto que descobri coisas novas! O ponto alto foi sem dúvida o banho de champagne que alcança cada vez mais detalhes e vigor! Dessa vez perdi a visão com o excesso de líquido e quando comecei a me atucanar, ouvi uma voz dizendo "aproveita" e então me diverti loucamente tentando resolver meu problema.

Adorei apresentar lá, pelo que experimentei e aprendi e, principalmente, pelos amigos e familiares queridos na plateia: meu primo Renato e sua esposa (eu não o via há pelo menos 15 anos), os novos amigos da caminhada Avner, Dennis, Trevo e Hiandria e o querido Pedro que desde o festival de Manuaus sempre lembra de mim!

Sou grata a toda produção, Rogero Torquato, Hugo, Simone e Agamenon que nos receberam com muito carinho e cuidado.
Sou grata a meus colegas de cena Pablo e Jua que sempre me acompanham e tornam tudo mais divertido e intenso!

AVNER reverberando

Aqui começo a descrever e analisar como a oficina com o AVNER EISEMBERG está reverberando no AMOSTRA GRÁTIS.
Primeira experiência no Cabaré do 3º Na ponta do Nariz.
Segunda experiência no 11º SESCFESTCLOWN - Festival Internacional de Brasilia.

Aproveitei o Cabaré para exercitar principalmente a respiração, que pra mim é bem clara e mais consciente nos momentos iniciais em que inspiro quando encosto no boneco e expiro quando me tomo de felicidade de poder vê-lo. Também percebo mais claramente a respiração quando tento beijá-lo e quando a cabeça cai. Em momentos mais controlados e calmos da ação eu consigo perceber e utilizar melhor a respiração do que naqueles mais frenéticos.

Para a apresentação do SESCFESTCLOWN, questionei muitos momentos, alguns consegui alterar, outros mantive como sempre faço, tive medo de comprometer o espetáculo com algo novo que eu não domino ainda. A questão da inspiração e expiração como algo consciente para construir elo com a plateia e para criar novas intenções para o movimento é impressionante. Tenho muito vivo na minha mente a cena inicial em que caio do puff rosa e saio lá de trás, inspiro, olho a plateia e expiro feliz e tranquila. Funcionou! Lembro bem das respirações quando leio a revista e recebo o boneco. Ainda é mais claro a respiração nos momentos mais controlados. Quando a ação e o movimento tem um tempo muito rápido ainda não consigo ter consciência dessa respiração e por consequência é difícil fazer modulações. Sei que o próprio movimento altera a respiração, mas quero experimentar a dinâmica contrária, controlando e modulando a respiração para ver como isso reverbera no trabalho. mas sei que isso é um processo a longo prazo!
Estou disposta a trabalhar sob esta perspectiva para qualificar o trabalho.

Experimentei as indicações de "recato" dadas pelo Avner, em relação ao beijo na boca do boneco. Fiz como ele indicou, beijando vagarosamente, mas primeiro utilizei a inspiração no momento em que me dei conta que tinha conseguido beijar na boca e a expiração no momento seguinte em que me sinto feliz pela conquista. fez efeito direto na plateia - incrível! Entretanto, todavia e contudo não deixei de lamber o nariz, porque gosto desse momento, é como se eu tivesse perdido o controle e de tanto prazer em beijar acabo lambendo o nariz. tenho consciência de que beira a estupidez, mas é uma escolha consciente.

Lembro bem quando ele disse algo mais ou menos assim: "Agora vocês podem analisar o conhecimento novo em relação ao que vocês já aprenderam, fazer experimentos e ver o que fica e o que se sustenta de fato. Vocês deverão fazer escolhas."

O novo realmente desequilibrou muitas das estruturas já enrijecidas do meu trabalho (que bom!!!), mas estou no movimento de fazer experimentos entre o novo e o velho e fazer as minhas escolhas!

Me sinto reaprendendo a andar, com a felicidade de poder vislumbrar novos caminhos, com medo do novo, mas me permitindo cair e experimentar novos passos. To feliz!

AVNER a revolução




Acabo de voltar de duas semanas intensas: curso do Avner e participação no 11º Sescfestclown.
O curso foi uma revolução!
Uma imersão na arte da palhaçaria e da humanidade!
Reaprendi a respirar!
A minha percepção é de que o AVNER tem uma consciência e uma compreensão do palhaço muito distinta da que eu conhecia até o momento, daquela que aprendi. Distinta e por vezes distante!
Não sei muito bem por onde começar o relato, então vou pontuar algumas coisas que ficaram:

1. "Essa triangulação é uma imbecilidade". Segundo ele compartilhamos com o público por três motivos: a gargalhada (então o palhaço olha e pensa consigo e com a plateia "eu sei"), quando o palhaço resolve o problema (então compartilha o sentimento de vitória, antes de descobrir o próximo problema) e quando é aplaudido (que se compartilha o sentimento de agradecimento).
Breve comentário: até então eu triangulava toda vez que eu descobria o problema.
Para ele quando se descobre o problema o palhaço deve focar na dificuldade (e pensar "interessante" e não olhar em volta ou para o público, porque pode parecer que se está pedindo o riso neste momento. Detalhe esse interessante é um sentimento de curiosidade, de desafio, não de fúria!

2. Respiração. Precisamos respirar e levar o público a respirar conosco!

3. O público precisa se sentir seguro com o palhaço, para isso é preciso ter cuidado com suas ações e objetos de cena, assim o público pensa "se ele trata assim seus objetos, também vai me tratar com cuidado!"
Ao respirar e principalmente expirar quando se vê de fato o público constrói a sensação de confiança e tranquilidade. O público percebe que é por causa dele, por causa da relação que se estabelece que o palhaço está feliz, o que provoca o riso e a felicidade na plateia também. Cumplicidade!

4. O palhaço não é estúpido, somente faz escolhas ingênuas e não óbvias.

5. Cuidar com ações repetitivas demais ou explicativas das ações.

6. movimento, história (imaginação), respiração. Qualquer um que se altera modifica o outro automaticamente.

Informo que tudo o que escrevi aqui é o que APRENDI não necessariamente o que ele tentou ENSINAR!!!! Não posso culpar o Avner pelos meus equívocos ou distorções!!! kkkkk
Foi incrível!!!! Ele é um lord, um cavalheiro! É delicioso ouvi-lo falar, explicar...

Então agora se iniciou o momento furacão: rever o meu trabalho sob essa perspectiva!
O que eu tenho de estupidez desnecessária?
O que é explicativo e precisa de outro tom?
Onde respirar? Em que momentos inspirar e expirar? Qual a dinâmica e tempo dessa respiração?
como trazer a plateia para o jogo e para a respiração e principalmente rever a triangulação.

Conscientemente, no plano do pensamento, já vislumbro novas possibilidades de transformação da cena, algumas já consegui colocar em prática, entretanto, muitas coisas que compreendo que devem ser modificadas, ainda não consegui alterar, porque no plano da ação material algumas ações, gestos, intensões e tempos estão tão cristalizados que levam tempo para serem tocadas e mobilizadas.

Fiz minha cena no Cabaré - chegada do boneco, volare, queda da cabeça. Avner elogio a movimentação poética com o boneco, mas alertou para os excessos como quando eu subo no pedestal e parece que estou "coxiando o pau do boneco" e quando eu beijo o boneco e acabo logo lambendo o nariz. Segundo o AVNER o recato é mais interessante!

Fico pensando que ele deve ter ficado espantado comigo, quando um dia anterior num exercício em que devíamos usar algo grudento eu optei por um absorvente que eu tiro de dentro das calcinhas...




Fotos Laiza Vasconcelos