Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

domingo, 24 de novembro de 2013

REVIRAVOLTA

Estou em pleno processo de construção do nosso espetáculo de dupla - 1,2,3 E CHÁ!
Eu e a Odelta imersas totalmente no trabalho, aqui em Floripa com a Lily Curcio (palhaça super hiper mega power rangers), que está nos dirigindo.
Então eis que acontece uma reviravolta: NÃO SOU AUGUSTA SOU BRANCA!
Louco? Sim, loucura total!
Acabo de ler minha postagem anterior, em que afirmo que sou augusta, extremamente augusta...
E agora me descubro branca!
O que fazer com isso?
Ainda estou em estado de choque. Mas num estado de choque de muita felicidade. Só ainda não estou conseguindo entender tudo isso.
Bom primeiramente, até o momento nunca tinha vivido os aspectos do jogo do Branco no meu trabalho. Basicamente eu reconhecia a figura meiga, fofa, ingênua, um pouco atrapalhada, com alguns rompantes de fúria, de força e de pseudo-inteligência. De certa forma, era assim que eu gostava de ser vista! Linda, querida, engraçada, generosa. Esse era meu nome GENEROSA. Nunca carreguei esse nome com muito orgulho, mas achava que de fato revelava quem eu era.
Com essa imagem e esse trabalho passei por alguns mestres que de fato me fizeram explorar diferentes nuances do Augusto. Vivi situações que me deixavam claro que eu era boba, muito boba.

Mas enfim, começamos o trabalho com a Lily e bastou pouco para que uma energia punk, forte, diretiva, controladora surgisse. Surgiu de forma explosiva, a partir de um trabalho dinâmico com os chacras. Era muito claro para todas nós que eu era o BRANCO da relação.
E agora José? Será que eu quero isso? Até pouco tempo sempre preferi o palhaço augusto, que é paspalho e querido por todos. Minhas referências de grandes palhaços são augustos.
Mas impressionantemente eu não me incomodei com o fato de ter me tornado a branca da relação. Pior eu estou adorando encontrar esse novo lugar. Agora sou a INHA, lembro de por um momento rolar pelo chão e dizer "ai, eu não preciso mais ser generosa!". É claro que essa figura forte, mais entendiada, irritada não excluí as outras características da minha palhaça que ao longo dos anos fui descobrindo ou construindo. Todo o material novo se funde com o antigo, criando novas camadas, novas nuaces, novas possibilidades. Não deixei de ser quem eu era, mas me vi uma nova face que desconhecia, ou não me permitia revelar.

Mas que eu fiquei impressionada, fiquei!
Nunca eu tinha me visto nesse estado?
Como ninguém viu?
Será que essa "brancura" é resultado de um momento que estou vivendo? Do conjunto da obra? Do momento e da relação com a Odelta que tem um jogo bem mais paspalho que o meu? Pode ser!

No momento quero ver onde vai dar! Tenho encontrado coisas incríveis, pelo simples fato de aceitar e buscar explorar essas características. Como elas se sustentarão ou reverberarão para os outros trabalhos, ainda não sei. Só o tempo e o trabalho dirá.

Mas algumas coisas curiosas da minha vida privada precisam ser reveladas, porque acredito que tenham ligação direta com esse novo olhar, esse redescobrir da minha palhaça.
O fato é que esse ano (na terapia) passei a olhar para minha "sombra". Olhar em mim, aceitar que eu não era só "legalzinha, meiguinha, bacaninha"! Esse ano fiz o exercício de olhar para o melhor e para o pior de mim, para tudo aquilo que aprendi que não era bacana revelar (a fúria, a inveja, o tédio, o controle sobre o outro, etc). Negar esse meu lado escuro estava me acarretando problemas. Então assim como olho para meu lado bom, meigo, autruísta, alegre, olho para meu lado perverso, mau, cansado, furioso.
Esse movimento me colocou mais inteira e tranquila diante do mundo.
Mas terapia é terapia e palhaço é palhaço! Ponto, disse! Entretanto, todavia e contudo a linha é tênue!
A grande questão é que o palhaço é o revelador da alma que o carrega! É a partir do humano de cada um que ele se constitui, então eu precisa ir ao encontro de mim, na minha totalidade.
Penso que aceitar um Branco é como aceitar viver a própria sombra.
É um exercício de generosidade imenso, assim como um augusto coloca a cara a tapa e apanha para revelar toda nossa fragilidade, me parece que o branco nos mostra sempre o quanto cruéis podemos ser.

Preciso ler mais sobre isso, preciso entender o que acontece!
Então: sou branca ou augusta?
Eu diria que agora me sinto INTEIRA

Alice Viveiros de Castro diz que se a gente se limitar a somente dois pólos a gente perde a gama de possibilidades, a riqueza das diferenças que existem entre esses dois aspectos aparentemente tão estanques! Gosto disso!

Acabo de contar tudo isso para minha querida diretora LILY, aquela que abriu essa nova porta e ela diz:
"tem que pensar que tudo está somando acrescentando".

Sim acredito que novas camadas se constituem!
E que estou indo ao encontro da minha INTEIREZA!

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