Este blog é uma espécie de "diário de bordo", uma forma de registrar e compartilhar um pouco do trabalho que venho desenvolvendo na busca da minha palhaça.


Espero que os leitores curtam cada depoimento, pois é sempre um relato sincero do que acontece, do que penso e sinto durante todo esse processo de "encontro comigo mesma"!!!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Metodologia

Numa dessa conversas:
- Tá, mas tu usa vídeo para analisar teu material?
- Não!
Fiquei pensando...
- Sim! Mas isso só entrou mais tarde no processo!
A discussão passou a ser sobre metodologia.
Qual a metodologia que eu usei para a construção do meu espetáculo?
Bom, vamos lá...
Primeiro momento: explorar
No início de tudo, eu não tinha a ideia de montar algo. Meu objetivo naquele momento, era explorar o jogo do palhaço e manter algumas coisas desenvolvidas na primeira oficina do Ricardo Puccetti. O que eu fazia era entrar em sala com um foco (como o Ricardo tinha explicado que fazia no seu processo de trabalho). Neste início, basicamente o foco era: trabalho com o boneco, possibilidades de jogo com aquele objeto.
Segundo momento: explorar, perceber, codificar
Quando surgiu a ideia para um espetáculo, elaborei um roteiro base e passei a trabalhar com cada parte. Cada "encontro comigo mesma" tinha um foco, por exemplo "acordar". Experimentava diferentes possibilidades para cada ação (ou para determinada parte do roteiro) e depois repetia as coisas que eu mais gostava. Assim construí uma sequencia de ações e acontecimentos e uma estrutura básica para o espetáculo.

Terceiro momento: ver (além de sentir) e limpar
Os registros em vídeo só aconteceram muito mais tarde quando já havia um esboço de espetáculo. Quando apresentei o trabalho no TIPIE fiz meu primeiro vídeo. Olhar e re-olhar o trabalho me possibilitou reconhecer muitas coisas - aquelas que eu manteria no decorrer dos tempos e aquelas que eu eliminaria do trabalho (e se possível da memória). Mas de alguma forma até o material eliminado ficou como uma reserva de jogo para algumas situações. Virou repertório.
Neste momento eu tinha quase 50 minutos de jogo, um jogo que eu defino como CAÓTICO. O trabalho necessitava de um olho externo para "limpar as ações", para evidenciar o que precisava de um foco maior e mais detalhamento. Mesmo depois de ver algumas vezes o registro em vídeo, as intervenções eram "sujas" cheias de pequenas ações e gestos que não contribuíam para a fluência e valorização do jogo.
Mas de algum modo as apresentações do espetáculo, mesmo em estado caótico permitiram em experimentar muitas nuances do trabalho, desde o deboche, o jogo mais escatológico, até os detalhes mais sutis do trabalho.
A partir destas três etapas do trabalho construí os pilares da minha busca: sentir, compartilhar, jogar.
Quarto momento: fazer escolhas 
Nessa caminhada um momento importante que ocorreu foi a seleção para o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine-Horto. Precisei reconstruir uma dramaturgia de 15 minutos, elencando principais momentos - minha ênfase era a estrutura dramática e as gags de riso. O material de 15 minutos ficou estruturado desta forma: a chegada do boneco, a dança, a morte e o trabalho com o público. Fiz uma pequena apresentação para um grupo de colegas - desastrosa! No máximo consegui alguns sorrisos.
Nesse momento percebi que, para que a entrada do boneco tivesse potência eu precisa antes estabelecer uma conexão com o público. Inseri a cena da escova de dentes. Bingo!
Quinto momento: reestruturar o material. Novas escolhas!
Passei quase um ano inteiro investindo nesta pequena cena curta, indo à festivais, apresentando em eventos, etc. Chegou o momento de retomar o espetáculo como um todo.
O que fazer?
A cena curta se tornou forte e com uma dramaturgia fluente. Como levar isso para o espetáculo de 45 minutos, tendo em vista que neste trabalho maior as partes da cenas curta estão fragmentadas em diferentes momentos?
O que eliminar daquele material inicial caótico? O que precisa ser recriado? Quais minhas novas escolhas?
Qual a estrutura dramática? Reelaborei o roteiro. Passei a retrabalhar cada parte. Fiz duas apresentações do espetáculo em Caxias do Sul. Duas apresentações bem distintas. A dramaturgia funciona, mas ainda não tem a fluência e potência que desejo. É preciso agora investir no DETALHE e nas TRANSIÇõES!
É neste momento em que me encontro ou desencontro!


"O mundo pode caber em um detalhe"
Frase do grupo Enganadores da Morte

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